quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

26.12.18 | 29.12.18 - Palas de Reis | Melide | O Pedrouzo | Santiago de Compostela


Em 2015, no dia 26 de Dezembro, peguei na moto e fui fazer a mítica Estrada Nacional 2. 2016 foi um ana de excelência, em termos de realizações pessoais e profissionais.
Em 2018, no dia 26 de Dezembro, enchi a Monte Campo com alguns bens essenciais e, juntamente com o meu ídolo de juventude – José Santos Godinho – e o Pedro Gil Vasconcelos, rumamos a Santiago.
O plano da viagem era fazer os últimos 70 km do Caminho Francês, provavelmente o mais conhecido, especialmente depois do filme “El Camiño”. Mas tamanha fama não nos trouxe companhia na viagem e fizemos três dias de caminhada onde apenas nos cruzamos com tês ou quatro peregrinos; mas já lá vamos.
Assim, para se fazer o percurso no sentido pretendido, fomos de carro até Santiago, onde apanhamos um autocarro até Palas de Rey.
Chegados a Palas, seria uma da tarde, um caldo gallego preparou-nos para a viagem e o meu passaporte levou o primeiro carimbo.
A partir daqui, por entre campos verdejantes ladeados por florestas de árvores de grande porte, com um bonito sol que salpicava de amarelo o horizonte, rumamos em direcção a Santiago.

Há quem diga que viajar é renovar, é morrer para voltar a viver, esvaziar o corpo e a mente para voltar a encher.
As festas do solstício – o Natal e a Passagem de Ano – são festas da luz: vivemos dias frios e escuros, de trevas, e, a partir do dia 21 de Dezembro, a luz ilumina a Terra e os dias ficam maiores; o








nascimento de Cristo é a luz espiritual enquanto a Natureza se encarrega de tudo o resto.
Viajar entre o Natal e a Passagem de Ano tem o peso simbólico de uma viagem que separa a noite do dia.
E o peso das nossas mochilas - quais pedras! – dão carga a essa simbologia… e a inúmeras piadas das mochilas de uns e de outros.
Aliás, piadas é o que não falta quando se tem no grupo pessoas com sentido de oportunidade, humor, memória e parentes afastados do Maquiavel.
O primeiro dia de viagem foi fácil: 15 km separaram Palas de Reis de Melide. Com o sol a baixar no final da tirada, o frio veio e com ele as minhas primeiras queixas.

O segundo dia já foi bastante mais complicado: chuva e frio e, apesar de não ser constante, ao caminhar por baixo de árvores, a água suspensa nas copas teima em obedecer à gravidade e caem bátegas grossas que encharcam a roupa.
Pôr e tirar a capa da chuva foi uma constante, por entre uma paisagem bucólica, com nevoeiro e vastos pastos com vacas, onde árvores isoladas eram alvo da minha máquina fotográfica.
As paisagens galegas são um hino ao cinema!
E foram essas mesmas paisagens lindas, cobertas de orvalho que me viram ficar para trás a seguir ao almoço do segundo dia de viagem. Não deveria ter parado para almoçar e parei, mesmo sem fome. A comida trouxe-me a preguiça e a vontade de me refastelar algures a dormir uma sesta; o frio fez o resto e só muitos minutos depois do Pedro e do Zé terem chegado a O Pedrouzo é que eu cheguei.
Pelo caminho passei por um asiático, a arrastar-se com um só bastão, umas sapatilhas de futsal e o ar de quem tinha sido atropelado por um TGV. Para se fazer o camiño não é necessário preparar-se como se fosse subir o Everest e gastar rios de dinheiro em equipamento; mas há mínimos que ajudam no conforto. Quando se caminha 9 horas, 33 km como foi o caso desse dia, ter uns atacadores que não se desapertam ou uns que se vão desapertando e fazem o peregrino estar constantemente a baixar e a levantar, com o peso da mochila às costas, faz muita diferença. É mínimo, mas na cabeça é uma falha morfológica.
Santiago á vista, é que se começa a sentir quando no alto do monte de Gozo se avista a catedral.
Para trás ficaram uma volta pelo aeroporto e as subidas de A Lavacolla. Este último dia encheu-se de luz para uma chegada a Santiago por volta do meio dia. Até lá, o troço mais feio do percurso, com aproximadamente 10 km de asfalto, e outros tantos de terra; coisa que, nos dois primeiros dias, raramente pisámos asfalto.
Descer para a Praza do Obradoiro, ter a certeza que me esforcei e foi com mérito próprio que lá cheguei, que passei a passagem ao som do música celta, que o sol sorriu para mim quando me coloquei diante da porta da Catedral.
Sou agnóstico mas a luz é comum a todos.
Bom camiño, é o que vos desejo.