
Sexta à noite e sábado todo o dia foi assim. Bem, ao jantar tive uma excelente conversa e um não menos especial Hennessy que elevou a banal sobremesa a níveis divinos.
Domingo acordou tarde mas o sol que entrava pela janela do quarto trouxe a força necessária para pensar em andar de moto.
Às onze da manhã o sol foi um amigo cobarde que me fez sair de casa com umas calças sem forro de inverno e com a membrana do casaco impecavelmente colocada na Shad do depósito.

"Vem aí neve!", ecoou na minha cabeça uma das frases predilectas da minha avó quando chegava o tempo frio.
"Pois vem e eu vou-me pôr a andar daqui para fora em direcção ao sol", pensei.

Tomando uma estrada de montanha até encontrar a N304, percorri as cores de outono que se estendiam dos campos até às bermas, dando uma áurea mágica ao Vale da Campeã.
Algures pelo zigue-zague, uma placa indicava " Santuário de Nossa Senhora de La Salette". Estarei em França?! é que não minha terra não era de certeza absoluta.
Não estava. Estava mesmo no meio da Serra do Alvão, num vale lindíssimo e pacífico, ouvindo os chocalhos ao longe e, apesar do frio, ter almoçado uma sandes no parque de merendas do santuário; uma capela caiada de branco e um relvado com platanos; deserto, idílico, como um velho ermita a observar o seu mundo.
O Santuário estava fechado mas logo abaixo dele, umas velhas minas apuraram o meu sentido de aventureiro e, no cavalo preto, por lá andei a descobrir trilhos em terra batida.
Era cedo mas o sol lá ia desaparecendo e, por isso, foi com grande velocidade que desci até ao Ermelo e, depois, segui para as Fisgas.
Um regato de água ao longe numa queda de água quase seca. Na descida, aproveitando a mobilidade da Transalp, meti-me por um caminho pedestre e fui dar à bacia da queda de água, ali no Rio Olo.
Se existe céu, deve ser algo assim. Mas cheio de malta porreira e de músicos famosos, porque aquilo estava deserto!
Era hora de regressar, quase de noite, por entre cabras e ovelhas que tapavam a estrada.
Mondim, Celorico, casa.
Foi assim o domingo.