
Apesar da chuva que me fez trocar o casaco laranja - com o qual me sentia um Mitch das motos - por um preto da linha Tour Tech da Alpinestras, apesar do Manolo, simpatiquíssimo me ter feito atrasar ainda mais a saída de Laxe, apesar de começar a pensar que a N222 não deverá ser a estrada mais bonita do mundo, o dia correu pelo melhor. Estou felicíssimo, instalado num hotel em Cariño.
E porquê?! Vão já perceber porquê; mas penso que ter tirado pela primeira vez a cadeira da embalagem e ter almoçado umas ovas de bacalhau fenomenais, ali quase no virar do Atlântico para o Cantábrico, poderá ter muito a ver com a coisa.
Acordei cedo para escrever o dia de ontem tarde para começar a viajar. Pensava que tinha perdido as chaves da garagem da moto e afinal estavam no bolso de trás das calças. O Manolo, do mais simpático que há, quis tirar fotos comigo e com a moto, fazer um vídeo e ainda me ofereceu uma t-shirt a dizer “ De Puta Madre, Manolo”.

Dali avistei até Punta Roncudo, para sul, e as Ilhas Sisargas, a norte.
Com o vento a estrada começava a secar e até Malpica, rolei sem problema algum. Do alto da Ermida de San Adrian avistei as Ilhas Sisargas mas não consegui vislumbrar o farol. Do outro lado, uma praia de sufistas e a feiura pensada de Malpica, dando um colorido especial à baía.
Tirei fotos na Rosa-dos-ventos e, com os binóculos, observei os faróis de Mera e o Cabo de Prioriño Grande.
Assim, saí da Coruña e fui directo a Mera que, com os binóculos, parecia muito mais perto do que na realidade foi. E o farol também me pareceu mais bonito atrás das lentes!
Quando ouço alguém falar do Ferrol penso na mãe a contar que quando lá foi, em frente À estátua do Franco, lhe diziam “ un caballo em cima de outro caballo”. Pois bem, passei no Ferrol e nem entrei na cidade. A manina da portagem perguntou para onde eu ía e disse-me logo o caminho a tomar e assim fiz.

Do Cabo Prior, com os binóculos, avistei uma agradável surpresa: o farol de Meirás, que não vinha no mapa. Melhor ainda, chegado lá, tinha que fazer uma incursão fora de estrada para melhor capturar o farol na lente da objectiva.
Rumei a Cedeira que deveria ser o último farol do dia. Uma vila lindíssima, como todas por onde tenho passado, e uma estrada de montanha, por uma floresta de pinheiros, abetos e carvalhos que me levou até ao farol.
Na placa pareceu-me ver 1,7 km e eu com a moto na reserva. 4 km no total e teria gasolina. O pior foi que a placa dizia, efectivamente 7,7 km, com uma subida íngreme que me levou a pensar várias vezes: o que vale é que para baixo é a descer.
Chegado ao topo da subida, uma ligeira recta para, depois, um carrossel de curvas até ao mar que desembocavam no portão do farol. Louco!
Pena que desci com a moto desligada para poupar gasolina e ao subir, voltei a rezar a todos os santinhos para que não faltasse nem uma gota. Não faltou!
De novo em Cedeira, com a moto atestada de gasolina e o sol ainda por se pôr, decidi rumar a Cariño para ver o farol do Cabo Ortegal.
Que maravilha, a melhor decisão da viagem: a estrada por onde vim tinha o asfalto perfeito, cabendo carro e meio. Curva contra curva, montanha acima, entre uma floresta digna desse nome o sol a deitar-se lentamente no mar.
Fazer a estrada de Cedeira para Cariño seguindo a rota dos miradouros deveria ser obrigatória: para as pessoas comuns terem o prazer de ver aquelas paisagens.
Para os senhores do Ministério da Agricultura, Ministério da Administração Interna e Ministério da Defesa perceberem como se faz prevenção de incêndios: passei por floresta e por eucaliptais; nos eucaliptais, nestes de hoje ou outros que, escassamente, vi na viagem, havia vestígios de incêndios. Na floresta - de pinheiros, carvalhos, arvores rasteiras, castanheiros – haviam vacas, bois, cavalos, ovelhas e certamente outros animais que não tive o prazer de presenciar. A floresta estava limpa e não havia nenhum vestígio de incêndio. Provavelmente aqui preferem gastar dinheiro com pastores o ano inteiro, em vez de proporcionarem números acrobáticos com aviões russos, canadianos ou de outra qualquer origem, durante o verão.
Com o sol baixinho cheguei ao Cabo Ortegal. Maravilha, como diz um amigo meu.
Estou em Cariño, num simpático hotel com o nome de … Cabo Ortegal.
Vou jantar, vou lavar camisas e decidir o que faço amanhã.
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