Há dias fantásticos; e hoje foi um desses dias, por tudo o que vivi, o que me recordei; ajudamos pessoas e animais, fizemos gente sorrir e, no final, sorrimos também. Machu Picchu é um marco da viagem, foi visitar uma das sete maravilhas do mundo. O dia de hoje é um marco de vida.
Em San Pedro, no lodge, o pequeno-almoço foi, de certa forma, partilhado com uma família de macacos que, ao invés de meia banana frita, tinham-nas aos cachos. Uma caminhada matinal pela selva serviu para abrir o apetite e preparar-nos para o dia que se iria apresentar: muito calor, humidade, e pingos de chuva.
Já em cima da moto, com o Alpinestarts sem a membrana Goretex e com todas as aberturas de ar abertas, seguimos a grande velocidade para Pillcopata. O final do dia de ontem tinha sido complicado, com muita chuva e nevoeiro a obrigar a dosear muito o andamento, e hoje queríamos, desde cedo, esticar o pulso; e o Joan alinhou nisso.
40 minutos depois, por uma estrada sinuosa, escorregadia e rápida, chegamos a Pillcopata e fomos retirar a bagagem das motos.
Um hotel simpático mas sem internet e sem água quente porque... já faz tanto calor que não seria necessário tal bem.
Ligeiros, fomos explorar a selva.
A 500 metros de altitude em relação ao mar, os motores ganham nova vida e permitem outra utilização.
Saindo de Pillcopata, em primeiro lugar, fomos visitar uma tribo de índios. Algumas casas com colmos a servir de telhado, animais a passearem entre nós e uma escola cheia de crianças de tenra idade.
Aiye, uma simpática india, quis mostrar-nos o artesanato local. Tão bonito e feito como forma de sustento da comunidade, levou-nos a querer comprar quase tudo. O problema é que estávamos de moto e o espaço e a fragilidade das peças não nos permitiu levar nada. Ficou a promessa de regresso ao final do dia com uma solução.
Na aldeia dos índios, uma criança ia para Pillcopata. São 8 ou 9 km e ela iria fazer o caminho a pé, como o faz todos os dias.
Sentada na moto do Joan, foi uma delícia vê-la a sorrir e a correr para junto dos amigos quando chegou a Pillcopata. Foi uma vez na vida e, certamente, caminhar menos estes quilómetros em todos os que já fez e os que vai fazer, não irá dar um saldo positivo. Mas a experiência, a atitude, o ter uma estória para contar aos amigos, valeu por tudo.
De Pillcopata, atravessando a ponte - existiam duas, uma nova e uma velha, de madeira e ferro, em ruína com a vegetação a invadir as longarinas e a criarem uma atmosfera fantasmagórica - decidimos seguir junto ao rio. Um pequeno riacho que vai engrossando à nossa vista, passa Porto Maldonado e segue ate Nova Olinda, já depois de Manaus, levando água até ao Amazonas e ao Atlântico.
Pela floresta, voando ao nosso lado, borboletas enormes, de asas azuis, amarelas, vermelhas. Milhares! Iguais às dos pratos de casa de Arrifana, que vieram, igualmente, da Amazonia, em idos do outro século.
Com um calor abrasador, rapidamente ficamos encharcados com uma chuva que transformou a estreita estrada num rio. De um momento para o outro. E com a mesma velocidade, o sol abriu novamente e os casacos ficaram enxutos.
O almoço foi nas margens de um rio onde aproveitamos para tirar fotos a atravessá-lo. Antes disso, numa ponte, crianças brincavam, quase nuas, a atirarem-se para a água barrenta. Paramos, como os velhos no tempo em que eu tinha a idade deles, fui ao bolso, tirei uns caramelos e rebuçados, e ofereci. O Filipe e o Joan também. Foi uma alegria para eles! Depois tiramos fotos e eles adoraram ver telemóveis com máquinas fotográficas, de ver a sua cara reflectida num ecrâ.
Da parte da tarde, a passar novamente um rio, mais fundo e com uma corrente mais forte, pude testar a impermeabilidade das minhas botas. Fantásticas, excepto por cima e quando se está todo dentro de água!
No topo de um planalto, com a junção de dois rios e na fronteira entre as regiões de Cusco e Madre de Deus, abençoada, uma quinta onde se acolhem animais selvagens que sofreram maus tratos porque foram tratados como animais de companhia ou outros que ali vão parar, atropelados. Há locais a trabalhar lá e fomos encontrar duas alemãs, voluntárias, que tiraram férias para ir até ali trabalhar: a Jana e a Anna.
Entre uma simpática conversa em inglês, vimos jiboias, caimões, macacos, um papa-formigas, uma preguiça, javalis, tartarugas, e uma capivara e muitos papagaios.
Um trabalho memorável pela protecção e colocação dos animais novamente na vida selvagem. Tocou-nos e demos uma pequena contribuição para aquele projecto que é igualmente suportado por uma ONG alemã.
De volta a Pillcopata, foi tempo de irmos arranjar um tubo um PVC suficientemente comprido e largo. Para quê?! Para voltarmos à tribo de índios a buscar tudo aquilo que tínhamos visto.
Arcos e flechas das mais variadas cores e madeiras, colocados embrulhados em papel, dentro do tudo amarrado à moto. Assim resolvemos o problema de transporte e deixamos mais dinheiro para a comunidade.
De volta a Pillcopata, engalanada em honra da Imaculada Conceição, com gente em trajes típicos e com máscaras pagãs, uma procissão, fogo de artifício.
Uma festa na selva, onde vai toda a gente. Podemos ver carroceis e o bingo "lá do sítio", bebemos umas cervejas com as alemãs e jantamos com o Joan no "restaurante chique". Sopa, prata principal e bebida, 15 solers; ou seja, 1,38 euros a cada um.
Pela segunda noite, antes de ir para a cama fui verificar se não tinha mosquitos no quarto. É que os mais pequenos são do tamanho de bolas de golf e o barulho é idêntico a um helicóptero!
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