Ir até onde a vista alcança, ir mais além, lá ao fundo onde
conseguimos esticar o dedo e imaginar que tocamos, sentirmos, fazer joguinhos
com as mãos e a profundidade para uma fotografia, uma recordação.
As Ons sempre me fascinaram por isso: ali em frente a Sanxenxo,
vi-as ao lado das Ciés, alcançáveis por mar mas não por terra - em cima daminha moto quando uni Portugal a Galiza e as Astúrias em busca dos faróis queiluminam e salvam a vida ds viajantes marítimos.
Ir às Ons era um objectivo por tudo o que se fala e o que
não se diz das ilhas: as praias com a água a lembrar o azul do Caribe, o
mergulho numa reserva, a vegetação, o pouco contacto com “a civilização”.
Por isso, chegado a Buéu, foi a altura de me despedir do carro e embarcar, Atlântico "adentro"!
Fiz esta viagem n vezes; mas nunca tão longe ou num barco tão robusto.
Fica o aviso à navegação: as ilhas são paradisíacas mas
esqueça o tipo de paraíso que é um resort com uma pulseirinha “all included” ou
o fancy thing que é ir para a Quinta
do Lago ou Vale do Lobo, para não falar do Hoteldu Cap. Para isso poderá ir à Agência Paraíso e marcar uma viagem de sonho.
Aqui é um paraíso diferente, em contacto com a natureza, que
dá para acordar e deitar dentro de água, ficando a dormir numa das casinhas que
se alugam a visitantes, ou montar a Monte Campo junto de hippies e festivaleiros, tendo
o ceú estrelado e a luz do farol como companhia. O mar rodeia-nos, entra pelos
olhos e pelo nariz, faz-se sentir na pele nua a cada minuto que passa.
Passei cinco dias nas Ons. Foi muito tempo? Foi pouco tempo?
Não sei. Foi o tempo que escolhi.
Com a meteorologia inconstante e a chuva a fazer companhia
nos primeiros dias, caminhar pela ilha, de uma ponta à outra, entre Puntal da
Porta até à Playa de Melide, com o mar a bater forte na costa oeste, por entre
o nevoeiro, com lebres a correr à nossa frente - em vez dos lagartos nos dias
de calor – as gaivotas no ar, o ambiente bucólico, nascem promessas e as
fotografias ganham uma luz especial.
Caminhar pela ilha é uma descoberta de paisagens, de luz,
cor, odores que não passam despercebidos a viajantes e caminheiros.
E depois de tal esforço, nada como retemperar forças entre um
dos três restaurantes que nos acolhem, com: percebes, vieiras, mexilhões, lavagante,
navalheiras, polvo, calamares, robalos, raias, solhas, sargos. Tudo o que pude
ver quando fui mergulhar estava à mesa, apanhado com conta peso e medida, para
manter a sustentabilidade.
Quem vem de barco ou procura na net, vê logo a Playa de
Cans, com o azul do mar a sobressair das rochas e das algas. Mas a minha
favorita é a Play de Melides.
Tem a indicação de ser praia de nudismo, mas onde anda toda
a gente vestida, e dada a distância, o sossego é outro; valendo bem a pena os
quase 2km que se caminha até atingir a praia. Quando o sol abriu e finalmente
veio iluminar a viagem já de si iluminada, estar dentro de água foi uma máxima,
aproveitando para refrescar o corpo e, com a máscara de mergulho colocada,
mesmo em apneia, ver toda a vida que se esconde de nós, entre as águas do
oceano.
Pelo meio, o farol. Lá no alto, faz a triangulação com os
faróis das Ciés e de Corrubedo, ficando Finisterra ainda mais a norte e o
Sileiro a sul de Baiona, iluminando todas as pontas da costa.
" Há quem goste de procurar Pokémon. Eu prefirofaróis.", foi o que escrevi no meu primeiro dia de viagem na Rota do
Faróis, em 2016. Continuo a pensar o mesmo. E as Ons são um farol: pelo que vivi, pelo sorriso que levava e que ficou ainda mais cheio.
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