segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Toda a Esperança do Mundo

Sábado, com uma tarde soalheira no Porto, fui-me enfiar numa antiga casa ou armazém, lá para os lados da Campanhã, na rua de Miraflor; o espaço Mira.
Com uma tarde solarenga,  em vez de aproveitar esta réstia de sol, esta dádiva, fui a uma apresentação de um livro.
Sábado, dia de luto mundial pelos tristes acontecimentos de Paris, fui ver fotografias de Alfredo Cunha e ouvir as estórias que compõe a história de vida do Luís Pedro Nunes, de Fernando Nobre e de todos os que trabalham com a AMI.
Que bela tarde de sábado.
Uma lição de vida, uma lição de história, relembrando que a mesma é viva, que não está enclausurada nos livros. Paris é reflexo disso mesmo ou o que viveram os nossos interlocutores de "Toda a Esperança do Mundo" no Níger, no Bangladesh, na Roménia ou no Nepal.
Durante a apresentação, emocionei-me várias vezes. Ouvi o Luís Pedro e lembrei-me do que vivi num hospital em Aswan ou a alegria das crianças pobres de Maputo.
Lembrei-me de centenas de pessoas do Porto, de Lisboa, de Oliveira de Azeméis, um pouco de todo o lado, que vive miseravelmente.
Ouvi o Luís Pedro, Alfredo Cunha e Fernando Nobre e vinquei, ainda mais, o porquê de gostar de viajar: conhecer o mundo, novas pessoas, culturas, formas de ser e de estar. É estudar sem ser nos livros, é gravar na pele e na mente o conhecimento.
Li-o de uma ponta à outra, ávido de conhecimento, de ver e ler mais e mais. Cada ponto do mapa, cada conversa com uma pessoa que vive, trabalha, sonha noutro canto do mundo. 
O livro, numa brilhante edição da Porto Editora, com uma qualidade capaz de espelhar o olho de Alfredo Cunha, é forte no sentimento, poderoso na escrita e arrepiante na imagem.
É uma lição e temos obrigação de agradecer à AMI o seu trabalho ao longo de 30 anos.
Estamos a chegar ao Natal; é época de, tradicionalmente, oferecerem-se presentes. Coloque-o no topo das suas preferências; vale a pena e ajuda a ajudar.



 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

30.10.15 - Marsa Alam | El Gouna

O dia amanheceu com o sol no mar, iluminando de forma mágica a praia de Marsa Alam. Aos poucos e poucos, as águas do Mar Vermelho começaram a tomar as suas cores características: o azul muito claro, de onde sobressaem o vermelho, o verde e o azul do coral e dos peixes.
Dado o cenário, antes do pequeno almoço, levei um dos fotógrafos para as dunas para tirar fotos comigo. Ficaram lindas!
A história da etapa não é muito: foi uma tirada rolante, quase sempre em linha recta, tendo como paisagem o mar - à direita - e o deserto oriental à esquerda, rumo a norte.
Como estória da viagem, sensivelmente a meio da etapa, o escape da scooter partir pouco depois da saída do colector.
Tive que parar, tirar o resto do tudo, a panela e o guarda lamas ( incrivelmente é tudo fixo pelo mesmo parafuso) e acelerar para ir ao encontro do meu grupo.
Com tudo isto, fiquei com uma Harley scooter, dado o barulho ensurdecedor que o meu pequeno pónei ( direitos de autor a quem de direito) fazia e a pouca velocidade que atingia.
Chegados a El Gouna, esperava-nos um dos melhores resorts do Mar Vermelho, e um resto de dia a ler Le Carré, esparramado na areia.




domingo, 1 de novembro de 2015

29.10.15 - Luxor | Marsa Alam



A manha de hoje começou com a excitação da primeira prova do campeonato: todos acordaram antes do previsto e todos queriam  sair quanto antes do hotel porque necessitavam de voltar à estrada, à adrenalina, à acção.
E por falar em estrada, que estrada! Para alcançarmos Marsa Alam é necessário cruzar as montanhas do Deserto Oriental e as suas inúmeras curvas. Os egípcios não sabem o que fazer com tamanho carrossel, os americanos, taiwaneses e brasileiros, idem aspas aspas. Restava o português, o alemão, o inglês e o contingente italiano para dizerem: finalmente algo a sério. Em dois anos de Cross Egypt Challenge este foi o melhor percurso de sempre.
Ciente das dificuldades da organização num cenário destes, deixei-me ficar para ultimo, atrás dos camiões de abastecimento, tendo como objectivo desfrutar ao máximo, ter toda a adrenalina possível e chegar aos pontos de paragem ao mesmo tempo que todos os outros. Objectivo cumprido. No encadeado, foi com facilidade que ultrapassei as outras scooter 150 cc e foi com a sensação de vitória que deixei para trás as potentes 400 cc.
Pelo caminho vi algo que nunca tinha presenciado, em dois anos de rali: uma cáfila selvagem.
Chegados a Marsan Alan, em vez de um luxuoso hotel de 5 estrelas tínhamos um acampamento montado dentro de um festival de cultura beduína, numa praia de sonho. Mas antes do festival, foi tempo de ir mergulhar.
O Mar Vermelho é um spot obrigatório em qualquer Log Book de um mergulhador e, por isso, não podia perder a oportunidade.
Um mergulho ao final do dia, com o sol a pôr-se, não foi o melhor em termos de visibilidade mas pude observar os corais, peixe palhaço, peixe trompete, peixe borboleta, uma tartaruga, uma manta e uma moreia.
De volta ao festival, a simpática Mariam – uma egípcia loura e olhos verdes, com rastas e um estilo hippie, que mais parecia do norte da Europa – explicou-me o que era o festival dos beduínos. Várias tribos de todo o país juntam-se e fazem corridas de camelos. O resto do tempo, cantam e dançam. Durante a noite fui até algumas fogueiras das tribos, ouvi os seus cânticos e uma sonoridade familiar com a Capoeira, bebi chá e vivi algo único.
Feliz, fui para a tenda.






27|28.10.15 - Luxor

Começo esta crónica referindo que juntei aqui os dois dias de descanso que tivemos em Luxor. Normalmente escrevo um episódio por dia mas, dado o que aqui vivemos, pela concentração dos factos e pelo restrito acesso à internet, decidi que é preferível ser assim. Se o primeiro dia foi vivido com grande emoção e intensidade, o segundo,em que pretendia trabalhar mas era impossível aceder ao mail ou CRM, restrito às facilidades do hotel, foi de cortar os pulsos!
Paramos em Luxor dois dias por vários motivos: eleições e não podermos circular no dia de hoje; alteração inicial do percurso com a corte das etapas do Sahara Ocidental; festejos da quinta edição do Cross Egypt Challenge.
Luxor é uma cidade mágica, com os famosíssimos templos de Karnac, o Vale dos Reis e o Vale das Rainhas, além do bazar e o Palácio de Inverno.
No ano passado estive no Vale dos Reis. Poder ver a imensidão dos templos do ar é algo que não podemos recusar e, mal me deram essa oportunidade, embarquei num balão de ar quente para sobrevoar Luxor.
Ainda antes do nascer do sol, balões de variadas cores insuflaram-se e deram outra cor ao céu de Luxor.
O sol nasceu e os templos sorriram. Lá do alto, pode ver as sombras, os vermelhos e os castanhos reflectidos na pedra tumular dos Senhores do Egipto. Lá em cima, muito acima do que voam as aves, observei a linha perfeita que separa o deserto das margens verdejantes do Nilo; a vida e a morte.
Cá em baixo, à nossa chegada, dezenas de crianças pobres, montando os seus burros como cavaleiros e com o sorriso típico de pessoas da sua idade. “ Foto? Ten pounds!”.
Durante a tarde, eu o Drew, a Chel, a Katherine,  o Ralph, o Pete e o Greg fomos fazer compras para o Bazar de Luxor. O Ralph, muito latino no seu espírito de aventura mas muito alemão em tudo o resto – não fosse ele alemão! –, pagava o que os vendedores lhe pediam porque é tudo barato, dizia. Eu, com menos euros no bolso e, sobretudo, na conta bancária, regateava ao máximo para ira dos egípcios e para grande espanto e diversão dos meus companheiros de compras. Penso que fiz bons negócios, não me ofereceram nada no final,  nem um escaravelho ou um hímen para o frigorífico!
Para festejarmos o nosso sucesso comercial, fomos visitar e beber uma cerveja ao Palácio de Inverno. Hoje um hotel Sofitel, outrora o único hotel da cidade, muito british, perfeito para os arqueólogos que começaram a explorar Luxor e que inspirou Agatha Christie em muitos dos seus livros.
No Palácio de Inverno respira-se a Europa do final do século XIX, respiram-se o ar dos salões de Londres e Paris; seria, porventura, uma Tormes para quem projectou tal hotel num lugar tão distante de tudo o resto.
Para finalizar a noite em beleza, dado que no dia seguinte ninguém ia andar de moto ou scooter, alguns companheiros de aventura organizaram uma festa de Halloween. E que festança!
Nos jardins do hotel, na margem do Nilo, rimos, dançamos, bebemos, tiramos selfies - muitas selfies! - , pintados como mortos vivos, como alguém que acaba de ter um acidente ou foi recentemente transladado, esquecendo-se do o voltar a enterrar novamente.
No dia seguinte, esgotei os filmes, os livros e a paciência. Paciência.