sábado, 10 de novembro de 2018

10.11.18 - Teerão


Hoje o sol inundou a minha janela e, ao contrário de ontem, a roupa parecia de mais.
Pequeno almoço tomado e checkout feito, aventurei-me sozinho no táxi até ao Bazar.
O trânsito estava infernal e o taxista não falava inglês. Para me ir sossegando sobre a viagem falava para uma aplicação que traduzia para inglês. Mas foi o único.
O Grande Bazar é mesmo grande!
Um labirinto de 8 km com edifícios construídos de forma contígua e une-os um telhado mal amanhado de chapa ondulada.
Aqui vende-se de tudo! Tudo mesmo, deixando Belmiro Azevedo pensativo sobre o poderio da Sonae na grande distribuição ou fazendo tirar o pio dos cantores ao desafio, na conhecida “tenho uma casa importante, de comercio em Portugal”, que o Ferreira cantava em Cidacos: perfumes, roupa, legumes, vegetais, autorrádios, tripés para câmeras fotográficas, roupa, ouro, falsificações de todas as espécies, radiadores, relógios, colares, bugigangas, colchões, panelas, livros, flores de plástico, dvd`s, brinquedos, aparelhagens Hi-fi, ferramentas; cansa-me só de pensar!
Tanta coisa que o mercado que vi ontem e os souks do Dubai parecem cozy!
Deixando o mercado para trás, no meio do trânsito e com outro taxista, combinei uam viagem dupla: até Azadi e depois ao aeroporto. O homem disse-me que sabia falar inglês… mas entre dizer e falar a diferença eram um ou dois oceanos.
Até Azadi não houve problema e pude ver o monumento que simboliza o Irão.
Depois começaram as complicações quando me apercebi que o homem me levava para o antigo aeroporto e não para o recente (12 anos!).
Foi lá que a aventura de Argo se passou, mas eu não estava em posição de viver o destino dos diplomatas americanos e queria mesmo o meu voo da Air Arabia, em vez do da Swiss Air.
Resolvida a situação através de mapas e aplicações mobile, quando o taxista se apercebeu que iria cobrar o dobro, foi vê-lo recostar-se no banco, tirar uma bolsa castanha do porta luvas de onde sairam os óculos de sol cheios de dedadas nas lentes, coloca-los e conduzir mais 50 km.
No aeroporto foi-me dada nova dose de paciência: mesmo com 4 horas de antecedência, estava a ver que não conseguia chegar ao avião a tempo.
No controlo de passaportes não me aceitavam o bilhete electrónico e disseram para ir a um net café para imprimir o mesmo; depois de impresso, foi dito que não servia e tinha que ter um tradicional bilhete; e lá fui eu para o meio de umas burcas mal cheirosas, com cobertores enrolados e amarrados com cordas a fazer de bagagem, sacos de sarapilheira cheios de tudo o que se possa imaginar desde farinha a bonecas do tamanho de um adolescente, barulhentas e uma prole e marido a condizer.
Depois de me deixarem sair do país, novo controlo de segurança que tive que passar 3 vezes: da primeira vez perguntei se tinha que tirar o pc da mochila e mandaram-me seguir, para logo me mandarem para trás para tirar o pc da mochila; depois mandaram-me novamente para trás porque apesar de não ter acusado nada tinha as sapatilhas calçadas! Haja paciência para não os mandar a todos para o sítio que merecem!
O Irão é um país bonito, que vale a pena visitar. Quero voltar! Não vi a antiga embaixada dos EUA - a guia preferiu paisagens e monumentos que honram a Pérsia, em vez de outros que são símbolos da revolução de 79 - nem o Museu das Jóias.
Quero ir aos desertos, a Shiraz, Kerman, Qeshm, Zanjan, Yazd.
O país tem recursos naturais, pessoas simpáticas e culturalmente avançadas. É governado por uma elite religiosa que usou fake news para, nos anos 70, organizar uma revolução e retirar o poder aos Xás.
Tinha tudo para ser um país exemplo no médio-oriente e no mundo, sem o esforço de maquilhagem que fazem os Emiratos ou o Qatar; mas parece que fazem de tudo para não o serem. É pena.







9.11.18 - Teerão

Ensonado, numa manhã fria e cinzenta com direito a pingos de chuva, à hora marcada, estava a Negar à minha espera: no planeamento da viagem e da estadia, conheci num fórum de viagens ao Irão vários guias não oficiais e optei pela simpática Negar. Normalmente prefiro viajar sozinho mas iria estar dia e meio numa cidade gigante, com milhões de habitantes, com poucos a falarem inglês, duas moedas oficiais e com uma discrepância assombrosa para tudo o que estou habituado, contratei um guia porque sabia que me podia levar rapidamente aos sítios que gostaria de visitar, dava-me a conhecer a gastronomia tradicional e negociava os preços de tudo. Sim, estamos num país persa dominado por muçulmanos e por isso é preciso negociar tudo. E eu não falo farsi!
Quem é que nunca jogou o Prince of Persia?! Provavelmente são muito novos; ou quem nunca viu as estórias do Aladino e dos tapetes voadores?! E as princesas com joias do tamanho do mundo?!
Estando eu no Dubai a capital do Império Persa está “ali ao lado”, a duas horas de avião.
Teerão é, para mim, um marco da geopolítica internacional e visitá-la antes de mais uma asneira de Trump, é obrigatório. Ainda por cima Trump nunca deixa ninguém ficar mal quando se trata de asneiras que alteram de sobremaneira a relação entre estados soberanos.
Do lado iraniano as asneiras também são frequentes, como nos mostrou o Tenente Frank Derbin, da polícia de Los Angeles, numa tirada de humor que ainda hoje me leva às lágrimas.
Um voo nocturno via Muscat levou-me até ao primeiro contacto com a realidade iraniana: apesar de no site disponível para informações sobre vistos dizer uma série de coisas muito bonitas e amigáveis, a realidade não é bem assim; o que, às três da manhã e sem dormir, ter que aguardar mais uma série de horas para obter um visto que nem dá direito a carimbo no passaporte, é obra. Mas a paciência existe para alguma coisa e foi tempo de a aplicar.
Ainda no aeroporto tive que me livrar dos negociantes de dinheiro negro e trocar euros por milhões de reais iranianos, pelo valor correcto, com a ajuda de um simpático rapaz que também era taxista e me levou ao hotel, num dos muitos centros da cidade. O preço correcto da viagem, de 50 km, seriam 5 euros para um local. Pediu-me 15 e aceitou 10. 10 euros para 50 km?! Os senhores da Uber e da ANTRAM que ponham os olhinhos nisto!
O hotel era imponente, de 5 estrelas, uma marca dos idos anos 80. Mas fora as estrelas na fachada e a recepção, tudo o resto era digno de uma pensão estrelinha. Era para dormir meia dúzia de horas e tomar banho. Por 30 euros não se pode pedir muito e ainda por cima com os empregados de libré e todos aqueles dourados dos primeiros filmes do 007.
Voltando à visita, conhecer uma cidade muçulmana numa sexta-feira tem a vantagem de não haver trânsito e, num velho Yugo a dois tempos, com o volante ¼ virado para a esquerda, viajamos do hotel para a zona do Bazar e do Palácio Golestan.
O Palácio Golestan é um complexo de vários edifícios de tijolo-burro e cerâmica, que conta nos painéis de azulejos a história do país no seu período áureo. Salas interiores de espelhos mostram a riqueza da história e da cultura pré-revolução, a influência francesa – a forma de agradecimento ainda é “merce”, uma clara vertente de “merci” – e o gosto que os Xás tinham pelas artes.
No meio, jardins bem cuidados, com lagos e fontes refrescam os dias mais quentes no verão.
Todo o bairro onde se encontra o palácio e que segue pelo Bazar, apresenta os mesmos tons verde e azul, contrastando com o amarelo do tijolo.
Nos prédios e murais é frequente ver-se a cara dos Ayatolas e Imãs, além de pinturas sobre a grandeza do Irão e palavras de ordem contra os Estados Unidos. Apesar disso, a Coca-Cola vende mais que a Super Bock em dias de Queima e nas montras oficiais e nos vendedores de rua - além dos pés, como é obvio! – a Nike, camisolas a dizer US Army e fatos de treino dos LA Lakers tem lugar de destaque. Percebem?!
Por falar nisso, abrindo um parêntese, entre a guia, taxistas e empregados de balcão, do hotel e das lojas no bazar, e a minha vizinha na viagem de regresso no avião, devo ter falado com umas 15 a 20 pessoas. Num país com 90 milhões, não é nada. Contudo, só um não me falou mal do governo ou dos imãs.
Ouvi coisas como: não podem casar porque não têm dinheiro; não podem ter filhos porque não têm dinheiro; a internet é censurada em páginas como o Facebook e o Youtube; o dinheiro vai para ajudar os afegãos e os sírios e a população iraniana não tem como viver; a gasolina é muito barata mas o carro ou a moto e tudo os que envolva é caríssimo e abundam carros em segunda, terceira ou quarta mão; não podem mostrar afectos em público – os homens podem andar de mão dada e beijar outros homens; os casais não – as mulheres, locais ou turistas, têm que tapar o cabelo; a polícia secreta infiltra-se em várias camadas da população; não há álcool, apesar de Shiraz ser conhecida como o berço mundial do vinho; árabes: detestam os árabes; o culto da antiga religião Persa é proibido; etc..
Será que todos os reaccionários iranianos se juntaram para me falar, porque reconheceram em mim um social-democrata ou será que a população já pensa assim e isso demonstra a caducidade do governo religioso?
Fechando o parêntese e voltando à viagem em si, o Grande Bazar estava fechado por ser dia religioso mas de metro, percorrendo meia cidade, pude ir ao tradicional e mais pequeno Bazar de Tajrish.
Milhares de cores, de cheiros, entre romãs, açafrão, fruta desidratada e seca, nozes e pistachos, misturados com produtos tradicionais, lojas de cobres como aqueles que haviam na minha Azeméis natal, imitações da Gucci e da Fendi, bijuterias, óculos, chinelos, telemóveis, chocolates, café, pão e tudo o que consigam imaginar.
No meio desta gente dizer que sou português é sinónimo de júbilo por causa de… Carlos Queiroz. Os iranianos são aficionados pela bola e Queiroz é um deus nestas terras. Já Ronaldo, apesar de dizerem que é o melhor jogador do mundo também, dizem que não é desportista porque não sabe perder. Lá terão a sua razão; digo eu que não percebo grande coisa de futebol e não vi nenhum jogo do mundial.
Ao meio dia, em plena hora de oração, visitei a parte masculina da mesquita do Imã Zadeh Saleh. Em alabastro verde e prateada, bonita, é um local a ter em conta; não fosse o calor e cheiro intenso devido às centenas de pessoas que estavam no local, era um local de meditação.
O almoço foi num terraço, num segundo andar com vista para a montanha. O prato: costeletas de cordeiro e shemroon kebab, acompanhados de arroz de curcuma, pasta de azeitonas com romã e nozes, tomates grelhados e uma salada de uma espécie de agrião. Mais tradicional não há! Ah! E para beber, um iogurte com hortelã que foi rapidamente substituído por uma coca-cola. Mas isto tudo com uma cerveja ou um tintinho ia bem melhor!
Com o estômago retemperado e novas energias reforçadas, foi tempo de mais um táxi velho e um velho taxista rezingão até à montanha.
Teerão é rodeado por montanhas e o contraste entre a cidade altamente populosa e o rochedo salpicado de branco e por onde brota água, tornam-na quase única, como Marraquesh. O empedrado e as casas que se percorrem em Darband lembraram-me Águas Calientes e o meu amigo Viana, além da aventura sul americana.
Em Darband params para tomar um chá, num dos muitos cafés em cima do estreito rio. Quando o emregado percebeu que eu era português, trouxe para a mesa uma bandeira das quinas. Simpático!
O dia escurecia e ainda faltavam três atracções: o Museu do Cinema, a torre Milad e a Nature Bridge.
O Museu do Cinema é numa casa do sec. XIX que pertencia a um antigo ministro e que tem um um jardinzinho e vive-se uma onda muito cool, com jovens com ar hipster.
A torre da Milad, uma das mais altas do mundo, permite uma vista de 360º sobre Teerão; tem um museu e um restaurante giratório. O pôr do sol deveria ser lindo mas foi-se enquanto comprava os bilhetes e aguardava na fila para subir. Lá do alto, apenas a noite e luzes aos milhões.
Último destino de sexta-feira: a Natural Bridge. Bem, de natural não tem nada e é uma estrutura de aço, moderna, iluminada de verde e que une dois jardins, por cima de uma movimentada avenida. Apesar do frio as pessoas passeavam pela ponte, entre os parques, conversavam, fumavam, ouviam musica e os miúdos praticavam hip pop e andavam de skate.
Negar é simpática e bem disposta e, sobretudo, uma persa apaixonada pelo seu país. Foi uma grande ajuda nesta visita relâmpago; mas amanhã terei que andar sozinho…









segunda-feira, 29 de outubro de 2018

19.10.18 - Dubai | Hatta | Kalba | Dubai

Apesar de ser "outono", o calor aperta e no meio da cidade do Dubai, com milhões de ar-condicionados a funcionar, por vezes as ruas tornam-se penosas sob a luz do dia. Mas para conhecer os Emiratos deve-se sair das grandes cidades e mergulhar no interior.
80% da população do Dubai são expatriados e, por isso, toda esta mescla cultural de mais de 200 nacionalidades, destacando-se a Índia e o Paquistão, com 25 e 12% da população total do país. E são pessoas destes países que se vêm às 5 da manhã em autocarros brancos a chegar às obras e aos serviços menores. Não são clean and shining; são autocarros simples, brancos, sujos que transportam gente simples e suja; mas não branca.
Ou quando se sai da cidade, vêm-se as suas casas, nas saídas mais reconditas das autoestradas: são blocos de apartamentos todos iguais onde se vêm milhares de fardas azuis e castanhas a secar nas janelas.
Foi isto que deixamos para trás quando nos dirigimos a Hatta, pelo meio do deserto, no encalce das montanhas rochosas.
Pouco depois de cruzarmos um erg, perto de Al Madam, assaltou-me a ideia de chegar a Hatta por um caminho menos convencional, digamos!: abandonamos a estrada principal e fomos pelo meio de umas plantações até que, depois de uma cáfila, abandonamos o asfalto e entramos na montanha por um caminho de terra batida.
Foram mais de 30 Km onde o pequeno Nissan Sunny portou-se como um UMM!
Os pneus é que não e, para um indiano que se encontrava por lá a trabalhar, foi um regalo ver a nossa coordenação ao mudar a roda em menos de 5 minutos.
A pisar a superficie lunar foi assim que nos sentimos... não estivesse ali ao lado uma enorme vedação que acompanha todos os vales e picos, relembrando que a terra é dividida entre os EAU e Omã.
Com a aventura do dia no papo, a viagem prosseguiu até à vila que acolhe uma barragem e uma parte da representação histórica dos Emiratos: um lago com kayakes para alugar e a imagem dos líderes pintada no muro da barragem que, a avaliar pela altura da água e pela precipitação, irá cair de podre sem nunca ter exercido a sua função. 
A representação da história do país é um conjunto de casas onde outrora foi uma torre de menagem e onde montaram cenas da vida quotidiana.
A fome aperta e Hatta fica na região montanhosa no meio do país. E lá longe, no mar, fica Kalba.
O caminho mais perto e rápido seria entrar em Omã e depois sair na fronteira de Kalba. Mas não estamos na velha Europa e atravessar a fronteira poderá levar o tempo e a vontade de almoçar.

Kalba é uma original cidade Emirati, com uma grande bandeira na primeira rotunda e que fica visível de toda a extensão da enorme avenida que acompanha a ria e o palmeiral.
Aqui não há prédios altos e os Bentleys e G AMG são substituídos por Lexus LS 400 e Mitsubishi Pajero, dourados e com miras no capot a imitar os antigos mercedes.
As pessoas vivem da agricultura e da pesca e isso é visível na paisagem e na gastronomia; na estrada marginal são visíveis os pescadores na sua arte xávega.
Parámos o carro e pudemos assistir ao puxar de redes, snedo um pouco diferente da "nossa": um barco lança uma rede de arrasto que forma um U na costa. Depois, da praia, dois velhos Toyotas puxam a rede fechando o U e trazendo tudo o que há para trazer

Há dias, 107 forgonetas de peixe, disseram-nos. Mas hoje, nem uma...
Na rede vinham duas tartarugas gigantes da sua velhice. Foram devolvidas ao mar e, segundo me contaram depois, porque estavam estrangeiros a fotografar; caso contrário iriam parar a algum souk para serem vendidas a peso de ouro!
Passando pelo mercado, é possivel observar o almoço: dourada, barracuda, espadarte, tubarão (uma espécie de cação), lavagante, cavaco, lulas do tamanho de um bucho de um boi!
Com o pôr do sol do lado do Dubai, foi tempo de cruzar Fujairah - uma cidade que está a crescer e que parece o Dubai de há 20 anos atrás - e entrar na autoestrada que cruza montanhas e deserto, em direcção à cidade nova.
 Ir do deserto e entrar no Dubai, dá aquela sensação de far west. Se escutarmos o Legendary Tiger Man, então ainda fica mais giro!

sábado, 20 de outubro de 2018

12.10.18 - Abu Dhabi

Amigo do meu amigo meu amigo é. Fui sempre assim, uma vezes melhor outras vezes pior, mas a natureza é essa mesmo.
Com este princípio fui com o Negrais até Abu Dhabi para visitar um amigo que está cá a trabalhar há vários anos: o Fernando.
Depois das apresentações feitas, foi traçado o objectivo da visita: ver o Palácio, a Mesquita e, pelo meio, uma ida à praia. o Circuito de Yas Marina fica para outra ocasião... provavelmente para a F1.
O Palácio onde se dão as recepções oficiais em Abu Dhabi fica ao lado do Palácio onde mora a família real e em frente aos poucos arranha-céus que existem na cidade; onde foi filmado um dos filmes da saga (ou chaga!) Fast and Furious.
É imponente, com fontes e jardins e o palácio um sitio mais elevado do que a entrada.
No interior abundam os dourados e os candelabros, tapeçarias, joias expostas.
Também há lojas e dois hóteis. Ou seja, toda aquela vivência da corte viver em comunhão com o Rei, como se lê nas histórias dos nossos tempos idos, aos dias de hoje e fora as monarquias europeis e os sistemas tribais africanos, é feito num hotel. 
A ideia não é má, recria-se o mesmo ambiente e todos já sabem, à partida, quanto irá cobrar o Sheikh Nahyan por essa convivência.
Depois da visita, com a fome a apertar, nada como ir a uma padaria portuguesa, de gentes de Loulé, que trouxeram até Abu Dhabi a tosta mista, a Francesinha, o Bacalhau. Tudo confeccionado na hora e com grande afluência de portugueses e outros expatriados.
Com a barriga cheia, fomos à praia. Supostamente é pública mas pagámos 6 euros para entrar. Mesmo assim, nada comparado com os clubes que cobram 70 euros para se poder dar um mergulho no mar.
Abu Dhabi é uma cidade mais clean que o Dubai, sem tantos arranha-céus; uma cidade que respira melhor. Mas as assimetrias socias estão todas lá e pequenos exemplos como este da praia relembram-me que, apesar dos nomes das celebridades que volta e meia aparecem por aqui, do nome dos arquitectos nas fachadas, dos supercarros, isto continua a ser um país de terceiro mundo.
Depois de uma excelente almoço num restaurante de uns australianos, com direito a cerveja e tudo, foi tempo de ir à Mesquita.
Linda!

É o melhor que se pode dizer do edifício branco, ilumunido por tons de azul, que fazem sobressair as abóbodas na noite estrelada.
Como não sou uma pessoa religiosa, consigo ter a mesma paz de espírito numa mesquita como numa igreja ou nos templos hindus. É bom! E avaliando as centenas de pessoas que lá estavam, de todas as raças e certamente de todos os credos, não serei o único.






sábado, 29 de setembro de 2018

29.9.18 - Sharjah

Por motivos profissionais acrescentei mais um país à minha lista de países visitados: Emiratos Árabes Unidos. Estou cá há dias e vou ficar um bom pedaço mais.
Estando num país muçulmano, o fim-de-semana foi sexta e hoje (sábado); sendo que sexta-feira, após apenas dois dias de residência e dois dias de trabalho - sim, coincidem - foi para dormir e fazer lides domésticas e ver o Sherlock Holmes com o Benedict Cumberbatch.
Hoje foi dia de mergulho!
A exemplo do que fiz quando estive com a LOBA em Moçambique, quero aproveitar os fim-de-semana para percorrer o país, conhecer as pessoas, a cultura; fugir à rotina, crescer.
E para mim, mergulhar é conhecer o mar, os peixes, as algas que muitas vezes vão parar à nossa mesa. No mar só os fotografo, não os apanho; isso faço no mercado local ou restaurante.
Depois desta brevíssima introdução, tenho a dizer que ainda era de noite no Dubai quando me levantei para percorrer mais de 200 km, por autoestrada e estradas nacionais, cruzando o deserto e as montanhas, para chegar a Sharjah, do outro lado do país, a norte de Fujairah, perto da fronteira com Omã.
Chegado ao ponto de encontro, uma marina em contrução com um grupo de rapazes novos como guias de mergulho, foi tempo das apresentações e zapar.
A bordo, além dos 4 tripulantes/ master divers, um simpático casal holandês que trabalha no Dubai, para a semana vai a Lisboa conhecer a cidade e planeiam a reformar nas margens de lago Constança, um diplomata peruano com a namorada, dois primos alemães que trabalham com equipamentos hospitalares, no Dubai, uma canadiana para regalo dos locais - imagino se tivessem visto a Linda Evangelista!! - e um Dubaiense, branco de tanto protector solar que colocou.
O primeiro mergulho levou-nos aos 32 metros de profundidade, a um barco afundado. O barco não valia a viagem e a visibilidade também não era grande coisa para "aqueles mares". Mas para quem está habituado a mergulhar com o Roças, na Galiza o ano todo, parecia um aquario e os meus olhinhos treinados para a escuridão conseguiram descobrir muita coisa; mas já lá vamos! Estava muita gente e o guia decidiu afastar-se do cabo e ir "por lá baixo em queda livre". Gostei! Tive a sensação do Daffy Duck a voar no espaço ao som do genérico da Guerra das Estrelas, na imensidão negra.
Lá no fundo havia uma moreia grande, muitos peixe leão e uns cardumes de peixes brancos e amarelos.
No segundo mergulho, a apenas 12 metros e com outras luz, vi duas raias daquelas que não se comem e que apenas vemos nos filmes do Cousteau, duas moreias, lulas do tamanho de uma bola de rugby, uma solha, vários peixe balão, peixe palhaço, marinas, um peixe grande com a cabeça gorda que não sei o nome e muitos peixes papagaio.
Uma autêntica diversão!
Para finalizar o dia, depois do almoço a bordo, o regressso pelo deserto, ao ver as dunas recordei-me das palavras do Valter, em pleno Sahra, a dizer se atacava pela esquerda ou pela direita, a surfar aquela imensidão de areia... ou as rochas, tão iguais às do outro Sahra, no Egipto. Tudo tão igual que ate parece que o arquitecto que desenhou tudo isto foi o mesmo.




segunda-feira, 6 de agosto de 2018

29.7.18 | 2.8.18 - Islas de Ons


Ir até onde a vista alcança, ir mais além, lá ao fundo onde conseguimos esticar o dedo e imaginar que tocamos, sentirmos, fazer joguinhos com as mãos e a profundidade para uma fotografia, uma recordação.
As Ons sempre me fascinaram por isso: ali em frente a Sanxenxo, vi-as ao lado das Ciés, alcançáveis por mar mas não por terra - em cima daminha moto quando uni Portugal a Galiza e as Astúrias em busca dos faróis queiluminam e salvam a vida ds viajantes marítimos.
Ir às Ons era um objectivo por tudo o que se fala e o que não se diz das ilhas: as praias com a água a lembrar o azul do Caribe, o mergulho numa reserva, a vegetação, o pouco contacto com “a civilização”.
Por isso, chegado a Buéu, foi a altura de me despedir do carro e embarcar, Atlântico "adentro"! 
Fiz esta viagem n vezes; mas nunca tão longe ou num barco tão robusto.
Fica o aviso à navegação: as ilhas são paradisíacas mas esqueça o tipo de paraíso que é um resort com uma pulseirinha “all included” ou o fancy thing que é ir para a Quinta do Lago ou Vale do Lobo, para não falar do Hoteldu Cap. Para isso poderá ir à Agência Paraíso e marcar uma viagem de sonho.
Aqui é um paraíso diferente, em contacto com a natureza, que dá para acordar e deitar dentro de água, ficando a dormir numa das casinhas que se alugam a visitantes, ou montar a Monte Campo junto de hippies e festivaleiros, tendo o ceú estrelado e a luz do farol como companhia. O mar rodeia-nos, entra pelos olhos e pelo nariz, faz-se sentir na pele nua a cada minuto que passa.
Passei cinco dias nas Ons. Foi muito tempo? Foi pouco tempo? Não sei. Foi o tempo que escolhi.
Com a meteorologia inconstante e a chuva a fazer companhia nos primeiros dias, caminhar pela ilha, de uma ponta à outra, entre Puntal da Porta até à Playa de Melide, com o mar a bater forte na costa oeste, por entre o nevoeiro, com lebres a correr à nossa frente - em vez dos lagartos nos dias de calor – as gaivotas no ar, o ambiente bucólico, nascem promessas e as fotografias ganham uma luz especial.
Caminhar pela ilha é uma descoberta de paisagens, de luz, cor, odores que não passam despercebidos a viajantes e caminheiros.
E depois de tal esforço, nada como retemperar forças entre um dos três restaurantes que nos acolhem, com: percebes, vieiras, mexilhões, lavagante, navalheiras, polvo, calamares, robalos, raias, solhas, sargos. Tudo o que pude ver quando fui mergulhar estava à mesa, apanhado com conta peso e medida, para manter a sustentabilidade.
Quem vem de barco ou procura na net, vê logo a Playa de Cans, com o azul do mar a sobressair das rochas e das algas. Mas a minha favorita é a Play de Melides.
Tem a indicação de ser praia de nudismo, mas onde anda toda a gente vestida, e dada a distância, o sossego é outro; valendo bem a pena os quase 2km que se caminha até atingir a praia. Quando o sol abriu e finalmente veio iluminar a viagem já de si iluminada, estar dentro de água foi uma máxima, aproveitando para refrescar o corpo e, com a máscara de mergulho colocada, mesmo em apneia, ver toda a vida que se esconde de nós, entre as águas do oceano.
Pelo meio, o farol. Lá no alto, faz a triangulação com os faróis das Ciés e de Corrubedo, ficando Finisterra ainda mais a norte e o Sileiro a sul de Baiona, iluminando todas as pontas da costa.
" Há quem goste de procurar Pokémon. Eu prefirofaróis.", foi o que escrevi no meu primeiro dia de viagem na Rota do Faróis, em 2016. Continuo a pensar o mesmo. E as Ons são um farol: pelo que vivi, pelo sorriso que levava e que ficou ainda mais cheio.