segunda-feira, 25 de julho de 2016

23.7.16 - Sesimbra

Estou apaixonado pela região de Lisboa: a natureza, a paisagem, a gastronomia, as pessoas. Depois de ter descoberto a Serra da Arrábida, dos banhos na Comporta ou as ondinhas de Sintra, voltei à capital e subi e desci o Bairro, revi locais, fui à Rua Rosa descobrir o "Sol e Pesca", deliciei-me na "Tasca da Esquina", do Vitor Sobral. Em Carcavelos, visitei o novo espaço do Alex, o "Sushi Toro", e saboreei um peixe fresquíssimo.
Em todo o sítio tive o mar à mesa: cru, em conserva, ou cozinhado da forma mais simples à mais delicada. Deliciosamente em todos eles.
Sendo eu um amante da natureza e do mergulho, além do mar à mesa, tinha que ver a vida que este mar tem. Assim sendo, fui uma vez mais até à Península de Setúbal, a Sesimbra, para ver a natureza no seu estado selvagem.
Com os mergulhadores do Cipreia, dirigi-me ao River Gurara, um cargueiro nigeriano afundado a 26 de Fevereiro de 1989, a sul do Cabo Espichel, num dos que foi considerado dos maiores acidentes marítimos dos últimos anos em Portugal: metade da tripulação morreu, sob o olhar de todos que nada conseguiram fazer. Hoje é um dos pontos obrigatórios do mergulho em Portugal e está entre 16 e 25 metros de profundidade.
Usando nitrox, entrei no gélido Atlântico para descobrir o porquê de, na superfície, haver uma gastronomia tão rica: um ruivo deu-nos as boas-vindas, com as suas barbatanas bem hirtas. Atentos ao fundo do mar, como fuçando a areia, salmonetes. Uma garoupa bem grande decidiu aparecer e, dentro dos seus fundo buracos, a cabeça esguia e o olhar atento de três safios.
Num segundo mergulho, mais junto à simpática vila piscatória, uns quantos polvos e, estando nós em Sesimbra, cardumes de sardinhas.
Faltou aparecer um lavagante, que estava prometido; mas a preguiça deve tê-lo feito ficar no buraco em vez de vir saudar as pessoas. Mal educado!
Antes de rumar à capital, ainda houve tempo de no "Formiga" e com vista para toda a baía, me regalar com choco frito e salada de búzios, além de navalheiras e lambujinhas.




segunda-feira, 18 de julho de 2016

16.7.16 - Aldán | Limens


O Homem, modo geral, traça vários "riscos vermelhos", como agora se diz, no que concerne a níveis de adrenalina, de sentir ou se fazer sentir fora-da-caixa, de conhecimento.
Para muitos, conduzir depressa, voar, andar a cavalo, fazer escalada ou mergulhar, são actividades impensáveis. Há tantos outros que apenas se sentem completos com esse espírito de aventura.
Eu gosto de tudo isso e muito mais; por isso, quando comecei a mergulhar, tenho tido o prazer de, mergulho após mergulho, ver mais vida sub-aquática, melhorar as minhas capacidades, tornar-me um melhor buddy. E, para isso, a ajuda do CCD Porto tem sido fundamental.
Mergulhar com a malta do CCD não é apenas mergulhar: é toda uma romaria de quem gosta muito do mergulho mas gosta, ainda mais, da camaradagem, do convívio, de enriquecer o seu dia-a-dia em torno de uma paixão.
Por isso, pela enésima vez a um sábado, fomos de malas e bagagens para a Galiza. Destino: Aldán e Vigo.
Aldán é uma das muitas praias em enseadas das Rias Baixas, onde proliferam artefactos de pesca e empresas ligadas a actividades piscícolas.

Num areal branco que transforma a praia numa autêntica blue lagoon das caraíbas, fizemos uma saída de praia para melhorar capacidades de navegação e observar a fauna e flora sub-aquáticas.
Sítio lindíssimo mas além de um cavalo marinho que parecia morto - toquei-lhe e ele nem relinchou!! -, apenas um cardumes de salemas e peixes juvenis.
Apesar do potencial azar do primeiro mergulho, o espírito criativo do CCD fez-se sentir: numa esplanada, com muitas cañas a acompanhar, o nosso farnel e umas tapas de polvo, mexilhões e canilhas. Delicioso!
Ao final do dia, iluminados a oeste pelo maravilhoso pôr-do-sol e a este pelas luzes da festa em honra de Nossa Senhora do Carmo, zarpamos rumo a Limens, uma enseada em frente às Ciés e aos mexilhoeiros.
Antes do sol desaparecer completamente e deixar a escuridão invadir a água, ainda houve tempo para uns mergulhos, para nadarmos, brincarmos, tirar fotos.
Quando já não se vislumbrava vivalma, foi tempo de ligar as lanternas e descer: no meio do escuro, por mais pequeno que seja um ponto de luz, é um sol em nosso redor. Com a incidência das luzes, as cores sobressaem o vemos um jardim à nossa volta.
Cavalos marinhos, solhas e um lavagante fizeram-nos companhia a 9 metros de profundidade.
O regresso a Vigo, no pequeno bote de borracha, foi digno de sorrisos de Sonny Crockett e Ricardo Tubbs depois de desvendarem mais um caso na quente Miami.




sexta-feira, 15 de julho de 2016

10.7.16 - Arrábida

O importante nas viagens é ir. Ter vontade e ir por aí, não importando se é de carro, moto, autocarro, bicicleta, a pé. O acto de viajar é, primeiramente, mental; só depois é que vem o meio.
Nesta questão de ir, não importa onde se começa e onde se acaba. Importa o conteúdo, a felicidade,  a partilha; a vontade de ir mais longe.
E para viajar, pela natureza, pela história, pela gastronomia, pelas pessoas, não é necessário sair de Portugal. Temos sítios lindíssimos que merecem ser visitados e conservados.
A Serra da Arrábida é um desses locais: encravada entre o Atlântico e o deserto da margem sul - local de habitação de gente que veio do Alentejo e de África a seguir ao 25 de Abril - , terra de pescadores, ferroviários, de gentes da CUF que deram vida ao Barreiro, Seixal, Trafaria, de homens do campo; e artesãos, artistas que encontraram um pequeno paraíso às portas de Lisboa. Ao fundo Tróia e a areia límpida, ao perto escarpas e florestação, promontórios tão belos que sustêm a respiração.
Visitar a Arrábida não tem uma ordem certa. Eu comecei a visita pela Fonte da Telha e o seu enorme areal com as casas a invadirem as dunas e a areia a cobrir o pouco asfalto que existe.
Entre redes e outros artefactos da faina, tasquinhos com peixe fesquíssimo, apanhado ali à linha e grelhado num fogareiro ao nosso lado.
Não havendo estrada para seguir em frente - tendo ficado a promessa de uma caminhada pelo areal até à lagoa - é necessário ir quase até Fernão Ferro e seguir pela N 377. Aí vale a pena ir à Aldeia do Meco e ir virando nas várias estradas e vielas que nos encaminham para o areal, a lagoa ou a mata.
No final da N 377, em Sesimbra, é obrigatório uma ida ao Cabo Espichel.
Abandonado, inóspito - começaram recentemente a recuperação - , tem a magia de um grande local de peregrinação do passado, um sítio onde a história deixou a sua marca.
Em baixo, vertiginosa, a Baía dos Lagosteiros. No topo, um farol que ilumina os navegadores.
Em redor, desde o século XIV, a Ermida, a Igreja da Nossa Senhora do Cabo, a Casa dos Círios, a Casa da Água, o Aqueduto.
Recondito, apaixonante, fui lá encontrar um grupo de motards espanhóis que partiram das Astúrias em busca do belo Portugal.
Regressando a Sesimbra, é obrigatório entrar na M 525 e, depois, a N 379-1, num zigezaguear constante, entre a escarpa e o mar, num verde azulado lindo, que nos leva emocionantemente, serra abaixo, até ao Portinho da Arrábida.
Descendo por um "saca-rolhas" digno de Laguna Seca, por entre um muro que diz que Sebastião da Gama viveu ali e "O sorriso do mar! Ó búzio longo", avista-se, por entre as arvores, a pacífica baía, postal ilustrado do paraíso na Terra. Meia dúzia de casas e restaurantes, apoiados em estacas já pelo mar, pitoresco é o que mais apetece chamar.
Apesar de gélida, a água convida a um mergulho; e usando uma máscara e barbatanas, é vida que nada debaixo dos nossos corpos.
O Portinho é um lugar digno de amantes, de férias de verão e das suas paixões, ao que eu termino os versos de Sebastião da Gama acrescentando "Eu não quero cantar-te, minha Amante, | Minha Mãe, minha Irmã, minha Senhora; | eu só quero entender-te toda a vida | como te entendo, Serra! nesta hora.". 
Com o pôr-do-sol a surgir no horizonte, há duas hipóteses para terminar a ronda pela Arrábida: choco frito e salmonetes em Setúbal ou queijo, tortas e vinho em Azeitão.
Qualquer uma delas, uma excelente escolha.