segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

7.12.16 - San Pedro | Pillcopata

Há dias fantásticos; e hoje foi um desses dias, por tudo o que vivi, o que me recordei; ajudamos pessoas e animais, fizemos gente sorrir e, no final, sorrimos também. Machu Picchu é um marco da viagem, foi visitar uma das sete maravilhas do mundo. O dia de hoje é um marco de vida.
Em San Pedro, no lodge, o pequeno-almoço foi, de certa forma, partilhado com uma família de macacos que, ao invés de meia banana frita, tinham-nas aos cachos. Uma caminhada matinal pela selva serviu para abrir o apetite e preparar-nos para o dia que se iria apresentar: muito calor, humidade, e pingos de chuva.
Já em cima da moto, com o Alpinestarts sem a membrana Goretex e com todas as aberturas de ar abertas, seguimos a grande velocidade para Pillcopata. O final do dia de ontem tinha sido complicado, com muita chuva e nevoeiro a obrigar a dosear muito o andamento, e hoje queríamos, desde cedo, esticar o pulso; e o Joan alinhou nisso.
40 minutos depois, por uma estrada sinuosa, escorregadia e rápida, chegamos a Pillcopata e fomos retirar a bagagem das motos.
Um hotel simpático mas sem internet e sem água quente porque... já faz tanto calor que não seria necessário tal bem.
Ligeiros, fomos explorar a selva.
A 500 metros de altitude em relação ao mar, os motores ganham nova vida e permitem outra utilização.
Saindo de Pillcopata, em primeiro lugar, fomos visitar uma tribo de índios. Algumas casas com colmos a servir de telhado, animais a passearem entre nós e uma escola cheia de crianças de tenra idade.
Aiye, uma simpática  india, quis mostrar-nos o artesanato local. Tão bonito e feito como forma de sustento da comunidade, levou-nos a querer comprar quase tudo. O problema é que estávamos de moto e o espaço e a fragilidade das peças não nos permitiu levar nada. Ficou a promessa de regresso ao final do dia com uma solução.
Na aldeia dos índios, uma criança ia para Pillcopata. São 8 ou 9 km e ela iria fazer o caminho a pé, como o faz todos os dias.
Sentada na moto do Joan, foi uma delícia vê-la a sorrir e a correr para junto dos amigos quando chegou a Pillcopata. Foi uma vez na vida e, certamente, caminhar menos estes quilómetros em todos os que já fez e os que vai fazer, não irá dar um saldo positivo. Mas a experiência, a atitude, o ter uma estória para contar aos amigos, valeu por tudo.
De Pillcopata, atravessando a ponte - existiam duas, uma nova e uma velha, de madeira e ferro, em ruína com a vegetação a invadir as longarinas e a criarem uma atmosfera fantasmagórica - decidimos seguir junto ao rio. Um pequeno riacho que vai engrossando à nossa vista, passa Porto Maldonado e segue ate Nova Olinda, já depois de Manaus, levando água até ao Amazonas e ao Atlântico.
Pela floresta, voando ao nosso lado, borboletas enormes, de asas azuis, amarelas, vermelhas. Milhares! Iguais às dos pratos de casa de Arrifana, que vieram, igualmente, da Amazonia, em idos do outro século.
Com um calor abrasador, rapidamente ficamos encharcados com uma chuva que transformou a estreita estrada num rio. De um momento para o outro. E com a mesma velocidade, o sol abriu novamente e os casacos ficaram enxutos.
O almoço foi nas margens de um rio onde aproveitamos para tirar fotos a atravessá-lo. Antes disso, numa ponte, crianças brincavam, quase nuas, a atirarem-se para a água barrenta. Paramos, como os velhos no tempo em que eu tinha a idade deles, fui ao bolso, tirei uns caramelos e rebuçados, e ofereci. O Filipe e o Joan também. Foi uma alegria para eles! Depois tiramos fotos e eles adoraram ver telemóveis com máquinas fotográficas, de ver a sua cara reflectida num ecrâ.
Da parte da tarde, a passar novamente um rio, mais fundo e com uma corrente mais forte, pude testar a impermeabilidade das minhas botas. Fantásticas, excepto por cima e quando se está todo dentro de água!
No topo de um planalto, com a junção de dois rios e na fronteira entre as regiões de Cusco e Madre de Deus, abençoada, uma quinta onde se acolhem animais selvagens que sofreram maus tratos porque foram tratados como animais de companhia ou outros que ali vão parar, atropelados. Há locais a trabalhar lá e fomos encontrar duas alemãs, voluntárias, que tiraram férias para ir até ali trabalhar: a Jana e a Anna.
Entre uma simpática conversa em inglês, vimos jiboias, caimões, macacos, um papa-formigas, uma preguiça, javalis, tartarugas, e uma capivara e muitos papagaios.
Um trabalho memorável pela protecção e colocação dos animais novamente na vida selvagem. Tocou-nos e demos uma pequena contribuição para aquele projecto que é igualmente suportado por uma ONG alemã.
De volta a Pillcopata, foi tempo de irmos arranjar um tubo um PVC suficientemente comprido e largo. Para quê?! Para voltarmos à tribo de índios a buscar tudo aquilo que tínhamos visto.
Arcos e flechas das mais variadas cores e madeiras, colocados embrulhados em papel, dentro do tudo amarrado à moto. Assim resolvemos o problema de transporte e deixamos mais dinheiro para a comunidade.
De volta a Pillcopata, engalanada em honra da Imaculada Conceição, com gente em trajes típicos e com máscaras pagãs, uma procissão, fogo de artifício.
Uma festa na selva, onde vai toda a gente. Podemos ver carroceis e o bingo "lá do sítio", bebemos umas cervejas com as alemãs e jantamos com o Joan no "restaurante chique". Sopa, prata principal e bebida, 15 solers; ou seja, 1,38 euros a cada um.
Pela segunda noite, antes de ir para a cama fui verificar se não tinha mosquitos no quarto. É que os mais pequenos são do tamanho de bolas de golf e o barulho é idêntico a um helicóptero!





sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

6.12.16 - Cusco l Paucartambo l San Pedro

Comecou hoje a segunda viagem da viagem, dirigindi-nos para a selva amazonica e, segundo dizem, para o lado atlantico. Dizem; porque e tao longe.
Cedo partimos de Cusco em direccao a Pisac, sem saber o que nos iria aparecer pela frente: 30 km separam as duas cidades e o percurso e em asfalto; mas dai ate quase a chegada, daqui a tres dias em Cusco, nunca mais pisamos o manto negro; a noite de ontem foi muito agreste, com forte chuva, granizo e trovoada e nao sabemos se teremos caminho por onde passar.
Em Pisac, subindo pela estrada que leva ao parque arqueologico, deixamos o asfalto a esquerda e seguimos pela direita, por cima de uma fina camada de lama que contrariava todas as leis da fisica.
Uns quilometros assim, poucos, e apos cruzarmos uma aldeia parecida com as de Kusturica, com porcos, galinhas e patos a passearem livrementre pela estrada, entramos num troco de terra que fazia inveja a muitos trocos do WRC.
Com o Joan a deixar-nos a vontade, foi a fundo que seguimos montanha acima, ate para la dos 4000 metros.
Tudo o que sobe tambem desce e, empurrados pelo frio, fomos ate a tipica Paucartambo, onde almocamos. Em cima do rio, numa casa de uma "mamy", comemos uma sopa e carne acompanhada de batata doce e molho picante.
Daqui em diante a rede telefonica era algho inexistente e a neblina levava-nos para a amazonia.
Subindo uma montanha a mais de 3000 metros, fomos acompanhados na descida pela chuva e pelo aumento da temperatura ate menos de 1000 metros.
A paisagem, outrora arida, passou a um verde denso, povoada de ruidos tropicais de aves e insectos, flores de cores garridas e sinais de animais selvagens.
San Pedro mais nao e que um lodge no meio desta imensa estrada que percorre a selva, por baixo de arvores, cascatas e tuneis, e que alberga viajantes abastados.
No seu interior e possivel observar passaros de diversas especies e uma simpatica familia de macacos.
Deitado na cama, debaixo de uma rede mosquiteira, dentro de um bangalou de madeira, bem decorado, espero calmamente que um escravelho gigante me ataque, tal e o barulho que estas coiisas fazem.


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

5.12.16 - Aguas Calientes l Ollantayambo l Pisac l Cusco

O sol veio saudar as montanhas masculina e feminina, e Aguas Calientes tinha uma luz linda as 6.30 da manha, altura em que apanhamos o comboio de regresso a Hidroelectrica.
Com o sol e calor, ao contrario da imensa chuva e nevoeiro do dia da vinda, esta viagem foi a disfrutar a paisagem: os desfiladeiros, os rios, as plantacoes de bananas. Paravamos a cada 10 minutos para tirar fotografias.
Pela estrada de terra entre Sta. Teresa e Sta.Maria, ainda havia vestigios da ultima campanha eleitoral, com dezenas de casas pintadas com cores, logotipos e slogans. Tirei fotos para o Ephemera, onde deverao ficar bem enquadradas.
Em Sta.Maria o asfalto regressou e o Joan disse para irmos a sua frente.
A partir daqui foi a disfrutar a conducao, levando a Kawasaki ao limite pelo encadeado de curvas, ate ao topo de Malaga, a 4315 metros de altitude.
Do alto observamos a beleza que nos foi tapada ha dois dias: a beleza da estrada que acompanha a montanha desde o topo ate ao sope, enquadrada com a paisagem, parecendo um rio, paralelo ao rio. O pico dos montes em nosso redor, a mais de 5000 metros, cobertos de neve, as alpacas a pastarem.
Bucolico, frio, sem ar, dava uma atmosfera unica e uma tontura e dor de cabeca que acelerou a descida ate Ollantayambo.
Uma sandes de abacate, tomate e azeitonas deu para enganar o estomago, antes da ida para Pisac, pelo Vale Sagrado.
Entre montanhas chegamos a tradicional vila, conhecida pelo famoso cuy no forno. O que e cuy? Um pequeno animal fofinho, algures entre um rato e um coelho que dizem ser muito saboroso. Dado o tempo que demora a preparar, ainda nao provamos.
Provamos a famosa empada tradicional e uma volta pelo mercado deu para encher a bagagem da moto de recordacoes cusquenhas.
Saimos de Pisac a fugir da chuva que, felizmente, so chegou quando ja estavamos no hotel. E que o ceu estava a cair em cima da nossa cabeca!






segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

4.12.16 - Machu Picchu

Como viram ontem, para se chegar a Machu Picchu nao basta querer: e necessario transpor serras, rios, florestas e estepes. De carro, moto, autocarro, comboio, para falar em tempos modernos, ou a pe, a cavalo ou burro, numa junta de bois ou outro meio de transporte de tempos idos, e algo que demora imenso tempo. A mesma ideia se coloca para sair de la.
Ha quem diga que os espanhois chegaram a Machu Picchu e que, por alguma razao, ja nao sairam.
Tudo isto para dizer que Machu Piccho, dado o seu isolamento, manteve caracteristicas unicas e uma intocabilidade que lhe dao um misterio especial. E dai este ponto ter sido aquele que, ainda em Portugal, eu e o Filipe colocamos como " seja por onde for, temos que la ir".
Por isso o dia de hoje foi algo especial porque nao foi apenas subir a um monte com ruinas. Foi como uma iniciacao dado todos os rituais que os Incas praticavam.
O nevoeiro era sebastianico, mas o Carlos, nosso guia cultural, tratou de nos colocar bem no centro da cultura dos seus antepassados.
A cada pedra ha um significado e ha pedras com os pontos cardeais espelhados pela aldeia para que os Filhos do Sol soubessem construir as suas casas segundo a orientacao do sol.
Observamos locais construidos para rituais do sol, da fertilidade, da Patchamama.
Entre lamas percorremos a zona agricula, em sucalcos, ate chegarmos a saida da aldeia onde uma ponte assegurava a seguranca dos habitantes.
E eis que, apos uma longa espera, o Inca decidiu levantar o nevoeiro e mostrou-nos Machu Picchu em todo o seu esplendor.
Regalados, depois de 7 horas a chuva, foi tempo de descer a Aguas Calientes.
Os meus problemas iniciais desde que chegamos a altitude ja se foram e, por isso, a gastronomia cusquenha foi a descoberta da tarde: uma sopa com vegetais e milho, batatas com ovos creme um pouco acido com sabor parecido com mostarda, molhos de ervas, sumo de quimo quente e cerveja cusquenha, preta e de trigo.
Ao jantar o Joan juntou-se a nos a volta de um frango assado mas as corridas e as viagens foram o prato principal.




domingo, 4 de dezembro de 2016

3.12.16 - Cusco l Ollantayambo l Malaga l Aguas Calientes

Deveriamos ter partido ontem de Cusco em direccao a Aguas Calientes. Mas os abusos da gastronomia local e a altitude atiraram-me para a cama do hostel a tomar imodium como se fosse pastilha elastica.
Cheios de vontade, com o sol a aquecer o corpo e a alma, colocamos as Shad na Kawasaki, conhecemos o Joan - nosso guia, GPS, mecanico e tudo o mais que precisarmos na viagem - e as 10 da manha arrancamos para a aventura Inca.
A 3200 metros de altitude, com o motor frio, foi com dificuldade que comecamos a progredir pelo empedrado cusquenho ate fora da cidade.
Pelo meio de um trafego constante de velhos camioes, autocarros e carrinhas com turistas fomos pela estrada asfaltada ate Maras, com as montanhas cobertas de neve ao fundo. Apesar de estarmos a 3900 metros de altitude, o frio nao penetrava no Alpinestar e nas calcas que, po acaso do destino, sao da linha Andes.
A estrada fazia uma curva apertada a direita mas nos seguimos em frente, no ziguezag de terra, montanha abaixo ate Pachar.
Nao havia transito mas as aldeias estavam cheias de perigos: galinhas, caes, porcos, burros e vacas. Para presepio so faltava o menino Jesus e nos eramos os romanos invasores!
No final dos 20 km da descida, retomamos o asfalto junto a um rio que nos levou a primeira paragem do dia: Ollantayambo.
A vila parece ter saido de um cenario das novelas da Record, com todas as tradicoes aon
 dispor do turista. Foi o tempo ir ao WC e prepararmo- nos para a chuva ate um policia vir ordenar a nossa saida - e das motos - da praca principal.
De Ollantayambo a Malaga foram quilometros infindaveis por uma estrada de montanha, ora tocando o ceu ora ficando entre autenticas paredes verdejantes.
Malaga fica a 4315 metros de altitude, ao lado do monte Veronica, a 5682 metros. Mas a nossa vista apenas chegava para ver, e mal, a luzinha vermelha da moto do Juan; a chuva e o nevoeiro eram mais que muitos e eu invejei o Nau integral do Filipe.
Uma paragem rapida, para os fumadores darem aso ao vicio e para podermos observar as reais condicoes de vida de algumas pessoas.
Na subida o motor 650 foi perdendo potencia e, por isso, foi com agrado que comecamos a descer. Primeiro devagar, com a estrada encharcada para, depois, andarmos a empurrar o Joan quando ja havia visibilidade.
Chegados a Santa Maria, no meio da estrada ao jeito de controlador de trafego, um homem indicava uma estrada a descer pelo lado esquerdo.
Nao era uma estrada, era um sonho de terra estreita, entre uma parede por vezes escavada e um pricipicio que dava para um rio. Parafraseando um conhecido piloto de ralis: "da fome antes de se chegar la abaixo".
Pela terra, com calor que obrigou a abrir a membrana goretex do casaco, com uma boa velocidade, alcancamos Santa Maria e, posteriormente por uma estrada onde nao nos era permitido circular, uma hidroelectrica que tinha uma estacao de caminho de ferro.
Motos guardadas, malas as costas e apanhamos um comboio que nos trouxe pela selva a Aguas Calientes, no sope de Machu Picchu.
Arranjar hostel, comer, domir. Amanha subimos a setima maravilha do mundo.




quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

1.12.16 - Cusco

Lima ficou para tras, envolta num manto cinza que vinha das montanhas e parava no oceano.
Sobrevoando os Andes num aviao multicultural, a cada montanha da cordilheira sentia um ressalto como se a suspensao fosse a bater. E a cada ressalto do aviao os Andes ambriam-se e mostravam a sua beleza.
La do alto, por entre o verde, pequenas aldeias ligadas por infidaveis estradas de terra, um carrocel de uma outra cultura que nos espera a partir de amanha.
Aterrar em Cusco e como aterrar numa favela gigante. Mas a medida que vamos entrando na cidade a sua beleza historica vai surgindo.
Esta calor e o sol queima.
Antes de almoco fomos ver as Kawasaki e conhecer o pessoal que as aluga: um latino e uma canadense, muito simpaticos que me deram os parabens pelo blog e pelas fotos.
Com dicas do que visitar, fomos ver a Praca de Armas e ao mercado.
Entramos numa igreja e de tao peculiar que era acabamos por assistir a uma cerimonia de adoracao do Santissimo.
A porta da igreja era lateral em relacao a nave e estava toda revestida de pequenos espelhos como se o objectivo fosse cada ver os seus pecados.
Ao fundo, atras de uma grade, um coro de freiras com uma voz celestial.
O padre, de costas voltadas para a assembleia, dizia as leituras, lembrando tempos idos.
Nao se podiam tirar fotos... Mas o rebelde que ha em mim soltou-se.
Cusco esta cheio de turistas e o ambiente e bom.
Ha muito que ver e provar. Ate ja!



30.11.16 - Lima

12 horas de aviao ao som dos Ja Fumega, de filmes que nunca tinha ouvido falar, a degustar comida de plastico acompanhada de gin tonico, a ler Dinis Machado e a Trevl , inspirando-me para o que ai vem.
Ontem o dia foi assim. Hoje foi muito diferente, com o cheiro do Peru a subir a mesa do pequeno almoco, quer nos sabores quer na conversa com a familia da Jenny, que tao simpaticamente nos acolheu.
De espirito aberto e estomago cheio, descarreguei a app da Uber e pagamos 20 solers por uma viagem comoda, ziguezagueando entre os milhares de carros de Lima. Destino: a Praca de Armas e o Palacio do Governador.
Entre a Catedral e igrejas, pelas catacumbas de Pizarro, observando ossadas e presepios de encantar, vimos tudo. Excepto o ouro. Pela conversa do pequeno almoco e pelo que ja presenciei, devera estar em Trujillo, Guadalupe, Sevilha ou Madrid.
Numa pequena volta pelo bairro central, depois da visita a um tipico cafe italiano do virar do Sec. XIX para o XX, uma manifestacao de reformados exigindo o pagamento da sua reforma. Homens e mulheres com expressoes vincadas, anos de trabalho a correrem pelas veias, suor de uma vida nao recompensada na velhice.
Apesar das palavras de ordem e dos capacetes dos policias, pacifico, dando para tirar fotos e conversar com o chefe da policia. Ele devera ter ficado a pensar que os turistas sao doidos porque em vez de andarem a tomar cafe nas esplanadas copiadas de outras cidades, andam preocupados com manifestacoes de "viejos".
Caminhando pela zona central, por avenidas compridas fechadas ao transito, engraxadores abrilhantam os sapatos como se de um espelho se tratassem, homens de colete verde trocam dinheiro em plena rua, exibindo macos de dolares e solers, vendedores de todo o tipo de produtos dao um colorido especial a rua.
Um arco chines, casinos, centenas de lojas com produtos e enfeites para o Natal indicam que chegamos a Little China. Elsas e Pais Natal de tamanho de adultos, arvores de plastico, todo o tipo de brinquedos para fazer a alegria da pequenada.
Com tanta caminhada, a fome apertou e nada melhor para ir provar a gastronomia local. Destino: mercado central, mesmo no meio de todas estas ruas apinhadas de gente.
Tripas e livros pendurados, pronyos a entrarem na panela com o feijao, pes de porco, costelo inteiro. As centenas, misturados com frangos ja depenados.
Do outro lado, congros, atuns, marisco de muitas especies. Ovas para fritar porque por aqui e assim que as cozinham.
Ao lado das bancas de peixe, bancas de restaurante. Coisa simples, destinado a quem trabalha por ali e eramos os unicos nao locais a comer sopa de camarao e ceviche. O director do mercado nao quer borrachos ali dentro e por isso a Coca Cola foi rainha ao apagar o fogo do rocotto e das algas. Edstavam muito bom mas com uma Deusa ianbem melhor!
O regresso a cada para buscar a Mary Gaby, nossa "guia" da tarde, foi feito num tradicional taxi. 15 solers entre bairros infindaveis desta metropole com 8 milhoes de pessoas.
Um parque destinado a fontes de agua artisticas e uma caminhada por Miraflores, a beijar o Pacifico, foi o programa do final do dia.
Para jantar, anticuchos, no bairro das artes de B



arranco, com o Pacifico a espelhar a lua e as luzes da cidade.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

6.11.16 - O.Azeméis | Amarante | Alto de Espinho | Vila Cova | Fisgas do Ermelo | O.Azeméis

Os fins-de-semana têm tendência a serem retemperadores: após uma intensa semana de trabalho e uma época de corridas que se prolongou até há bem pouco tempo, aproveito qualquer bocadinho para dormir, em qualquer sitio!
Sexta à noite e sábado todo o dia foi assim. Bem, ao jantar tive uma excelente conversa e um não menos especial Hennessy que elevou a banal sobremesa a níveis divinos.
Domingo acordou tarde mas o sol que entrava pela janela do quarto trouxe a força necessária para pensar em andar de moto.
Daqui a uns dias vou para o Peru e esta era a oportunidade de testar o casaco da Alpinestars com membrana em Goretex e sentir as botas offroad calçadas uma vez mais nos pés.
Às onze da manhã o sol foi um amigo cobarde que me fez sair de casa com umas calças sem forro de inverno e com a membrana do casaco impecavelmente colocada na Shad do depósito.
Dada a hora nada propícia a começar uma aventura, segui pela autoestrada até Amarante. Chegado, enregelado, tirei o forro de inverno do casaco e dei-lhe o devido uso. Se era para começar a aventura, pelo menos tinha que a fazer quente!
Em Amarante segui pela N15; a corrida antes e após as corridas de Vila Real; curva contra curva numa estrada de bom asfalto e onde as casas vão desaparecendo dando lugar a castanheiros e carvalhos. Desaparecendo foi, igualmente, o sol e no Alto de Espinho - logo a seguir à Pousada do Marão ter virado à direita por uma estrada íngreme que me levou até outra, em terra batida, em direcção às eólicas - não consegui tirar o capacete dado o frio e vento que se faziam sentir.
"Vem aí neve!", ecoou na minha cabeça uma das frases predilectas da minha avó quando chegava o tempo frio.
"Pois vem e eu vou-me pôr a andar daqui para fora em direcção ao sol", pensei.
O objectivo da viagem era ir até às Fisgas do Ermelo e, do Alto de Espinho, por entre o nevoeiro denso, vislumbrei a estrada até lá. Quer fosse por asfalto quer fosse por terra.
Tomando uma estrada de montanha até encontrar a N304, percorri as cores de outono que se estendiam dos campos até às bermas, dando uma áurea mágica ao Vale da Campeã.
Algures pelo zigue-zague, uma placa indicava " Santuário de Nossa Senhora de La Salette". Estarei em França?! é que não minha terra não era de certeza absoluta.
Não estava. Estava mesmo no meio da Serra do Alvão, num vale lindíssimo e pacífico, ouvindo os chocalhos ao longe e, apesar do frio, ter almoçado uma sandes no parque de merendas do santuário; uma capela caiada de branco e um relvado com platanos; deserto, idílico, como um velho ermita a observar o seu mundo.
O Santuário estava fechado mas logo abaixo dele, umas velhas minas apuraram o meu sentido de aventureiro e, no cavalo preto, por lá andei a descobrir trilhos em terra batida.
Era cedo mas o sol lá ia desaparecendo e, por isso, foi com grande velocidade que desci até ao Ermelo e, depois, segui para as Fisgas.
Um regato de água ao longe numa queda de água quase seca. Na descida, aproveitando a mobilidade da Transalp, meti-me por um caminho pedestre e fui dar à bacia da queda de água, ali no Rio Olo.
Se existe céu, deve ser algo assim. Mas cheio de malta porreira e de músicos famosos, porque aquilo estava deserto!
Era hora de regressar, quase de noite, por entre cabras e ovelhas que tapavam  a estrada.
Mondim, Celorico, casa.
Foi assim o domingo.





domingo, 6 de novembro de 2016

30.10.16 - Ammaia | Marvão

O sol ia alto quando acordei na Casa da Eira, no topo da Rampa de Portalegre, dividindo os concelhos de Portalegre e Marvão.
Antes deste domingo soalheiro foram dias de competição que me trouxeram a vitória na Baja Portalegre 500, no Desafio Polaris ACE.
Em pleno Alto Alentejo, mesmo no alto do seu planalto, além de competir também há que aproveitar o melhor que a terra dá: a paisagem, a gastronomia, a cultura destas gentes.
Melhores paisagens do que as que tive em prova, cruzando campos e rios, acelerando ao lado de touros e cavalos, vendo aves de rapina ao longe, num misto de competição e aventura que tanto gosto e que nos remete aos primórdios dos ralis.
Também nível gastronómico, a Baja Portalegre 500 é uma autêntica festa: a seguir ao Dakar é a prova mais conceituada no mundo, é a última do campeonato, toda a gente quer participar e são milhares na beira da estrada a ver.
Há melhor gastronomia do que uma mesa repleta de gente com estórias a contar? Com muitas experiências de vida, com rugas de tanto sorrir, com a pele queimada por todos os sóis. E esta mesa existiu, no Tomba Lobos e no Mil Hómens, nas roulotes de bifanas, na simpática cozinha da Casa da Eira.
Hoje domingo, já não há festa.
Mas estar em Portalegre e não ir ao Marvão, é uma flor que não floresce.
Descendo da Casa da Eira em direcção à Portagem, um pouco antes de se chegar, deparamo-nos com mais um vestígio civilizacional da época romana na Península: Ammaia.
Uma autêntica cidade está a ser descoberta e está-nos a contar a história dos romanos por volta do ano 45 dC até 166 dC.
O Alentejo é rico nas civilizações que albergou e os templos romanos e as técnicas agriculas e de rega herdadas dos árabes são prova disso. Ali ao lado, em Castelo de Vide, séculos mais tarde,  estiveram os Sefarditas, tarnsformados em Cristão Novos.
Em Ammaia podemos observar objectos em metal e em vidro, com um estimável estado de conservação, provando que há 2000 anos atrás as técnicas usadas eram muito avançadas.
No museu observam-se miniaturas de filigrana e botões contando o quotidiano dos habitantes, com uma precisão extrema.
Fiquei maravilhado com estes descendentes de Tubalcain!
A cidade era grande e pode-se passear pelo campo das escavações, com um total de 25 hectares. A algumas ruínas junta-se o melhor que a natureza oferece e o passeio no campo é muito enriquecedor.
Com o sol no alto e uma ave de rapina a estender as suas asas para planar ao sabor do vento, foi hora de subir pelo zigue-zague que vai da Portagem até ao Marvão.
 Há sempre um recanto novo, uma sombra, um pouco mais que se vê no horizonte.
Entre casas caiadas e outras que de desfeitas que estão dão um ar romântico à Vila, foi com um sorriso que regressei a casa.




domingo, 21 de agosto de 2016

20.8.16 - Posada de Váldeon | Leon | Benavente | França | Montesinho | Oliveira de Azeméis

Posada de Váldeon tem o seu q de castiço: depois de vos escrever fui para o "café central" petiscar e beber vinho tinto a copo.
Ninguém estava para grandes conversas porque s grupos estavam feitos: montanhistas, locais e dois ou três casais. Mesmo assim, estava cheio.
Dei por mim a ver TV, meia final de basquetebol, EUA-Espanha, com o EUA, claramente, a dominarem o jogo dando escassas oportunidades aos espanhóis de se aproximarem no marcador, sempre pela marca dos 3 pontos, mas sem nunca se revelarem um perigo. Em perigo estava eu porque deveria ser o único apoiante dos EUA.

O café era familiar: o pai ( que não me lembro se o vi mas devo ter visto para falar dele), a mãe e o filho; um rapaz mais novo do que eu mas ainda mais careca do que eu, a falar muito baixo e de forma incompreensível. Passados segundos viu-se logo quem mandava ali e, às nove e tal da noite, a mãe, a discutir com o rebento, que queria fechar o café às dez e meia e, por isso, para ele fazer qualquer coisa. A partir dali qualquer pedido feito era respondido a contragosto; contudo, naquele local eu compreendo: para que é que eles quereriam vender mais?! Para lucrar mais?! E gastariam esse dinheiro no café do vizinho ou a comprar bastões de caminha, recuerdos de Posada e Caín, e queijo de Cabrales? De facto, mais valia expulsar os clientes e irem dormir.
Posada acordou fria mas com um sol lindo, típico de alta montanha, que me fez recordar dias passados em estâncias de ski.
Penduradas nos cabos de electricidade, milhares de andorinhas davam os bons dias a quem passava.
A etapa era longa - a mais longa da viagem - e, por isso, saí bem cedo.
De Posada voltei a subir aos Picos, para este, indo desembocar em Portilla de la Reina. Pelo meio, indo em busca dos raios de sol que me iam aquecendo, foram mais 30 quilómetros em estrada de montanha, por entre desfiladeiros, subindo e descendo.
À saída de uma curva mais apertada tive a plena noção de como será uma largada de touros, na ordem inversa: entre vacas, bezerros e um boi contei - pela foto - 18 cabeças, que ocupavam a estrada toda. Pelo seu olhar, uns eram mais simpáticos que outros e todos, mesmo os bezerros, com capacidade de me mandarem monte abaixo.
Rapidamente tirei uma foto e com ainda maior velocidade guardei a máquina na Shad do depósito. Depois, a medo, dei duas aceleradelas e fui indo quase a passo ao encontro da mana para ver se conseguia passar pelo meio. Aos poucos e poucos as vaquinhas iam abrindo para eu passar até, quase a chegar ao fim do grupo, poder acelerar calmamente dali para fora.
Pela montanha, uma ave de rapina, lá no alto, acompanhava o meu andamento e, na estrada, às poucas pessoas com quem me ia cruzando levantava a mão.
Saindo dos Picos foi altura de regressar a casa.
Primeiro pela N-621 e 625 até Leon, passando a barragem em Riaño e enregelando os ossos com o frio que se fazia sentir.
Em Leon, antes de  rumar a Benavente pela N-630,  parei para comer um bolo que trouxe do pequeno almoço e, sobretudo, para me aquecer ao sol.
Até Benavente e, posteriormente, até Puebla de Sanabria, a estrada são duas longas rectas, cruzando aldeias e vilas desertas, envoltas de uma paisagem amarela de palha seca, tão característica da Espanha desertificada.
Não se via vivalma, apenas mosquitos que, a mais de 140 km/h iam ficando agarrados ao Nau, dando-lhe tonalidades vermelhas, amarelas e castanhas em cima do branco e da fibra de carbono.
Após Puebla de Sanabria, a poucos quilómetros de Bragança, "Carretera de Montaña" aparece escrito em letras gordas numa placa gasta pelo tempo. Traduzido por miúdos: era hora de diversão. E foi!
Cruzada a fronteira por terras de contrabando,foi tempo de parar em França para uma piada no Instagram e comer duas sandes de presunto que dariam para seis.
Observei o Sabor e subi a Montesinho, por asfalto e por um caminho de terra.
Depois... bem, depois foi tempo de enrolar o punho e descer pela A4 e A41 e A32 até Oliveira de Azeméis, por um país que continua tórrido.
Passei seis dias excelentes,  em cima do meu cavalo preto, a aprender, a viver, na esperança de, um dia, alguém querer ler ou ouvir.
Foram quase 3.500 quilómetros de aventuras, a ver faróis, praias, o mar, a serra, a sentir o sol queimar a cara e a chuva a acalmar os ânimos, e que me deixam com um sorriso franco e aberto, como quem descobre um novo amor.
Agora estou em casa e a vida continua.







sexta-feira, 19 de agosto de 2016

19.8.16 - Fresnos | Covadonga | Sames | Cain | Posada de Valdéon


Lembram-se da comunicação via rádio do Senna para a box no final do G.P. do Brasil de 91? Quando ele ganhou a primeira vez em casa?!
Conduzir nas estradas dos Picos da Europa, traduz-se nessa comunicação. Brutal!
Desfiladeiros estreitíssimos onde torneamos a rocha ou fugimos do riacho que corre lá no fundo do precipício. Miramos as vacas e esperamos que nenhuma dela se lembre de saltar para a nossa frente. Tive orgasmos cerebrais ao pensar como será fazer aquela estrada com um carro giro… o Audi do Ekstron, por exemplo. Perguntei porque é que não há um fotógrafo atrás de cada curva porque, em muitas delas, sei que passei perto do chão e do muro.
De manhã cedo, depois de vos contar as aventuras de ontem, deixei o hotel manhoso lá longe. O primeiro destino seria Covadonga e os seus lagos pelo, que, em vez de ir pela autoestrada, à minha boa maneira, apanhei a N-634 em direcção a Santander para, em Arriondas, seguir pena N-625.
O delírio previu-se na N-634, uma estrada larga mas com curvas de montanha apesar de se rolar ao nível do mar e a N-625 foi aquele sonho que fazem os meus olhos brilharem quando me lembro de cada curva, cada toque no travão ou enrolar o punho para sair em força para o desafio seguinte.
Chegado a Cangas de Onís segui directo ao Santuário de Covadonga, meso a tempo de parar a moto e não apanhar o verdadeiro banho do dia, com o céu a cair-nos em cima da cabeça.
Refeito dessa emoção de deus ao ver-me chegar ali, foi visitar o santuário e a pequena capela esculpida na rocha.
Com a estrada para os lagos encerrada das 20 às 8.30 para veículos não autorizados, restou-me apanhar uma carrinha para subir ao ponto mais alto dos Picos Ocidentais.
Na carrinha tinha como companheiros de viagem três casais – que penso que não se conheciam – mas todos extremamente informados sobre onde estavam, ao que iam e o que andam a fazer neste mundo:
- Há alguma utilidade na água dos lagos?
- Não, é só água!
- Para onde vai o excesso da água?
- Escorre por aquele ribeiro: ali!
Ao mesmo tempo que uma das mulheres gritava sempre que cruzávamos uma vaca, ou um precipício, ou um autocarro ou outra coisa qualquer. O que, numa das míticas chegadas da Vuelta, com inclinações de 15%, precipícios são coisas que não faltam; assim como espaço para cruzar três camiões TIR, um burro e o Bergoglio a sacar piões num Ferrari amarelo. Antes rir.
Chegado ao topo, ao segundo lago, subi a montanha e fiquei a ver os dois lagos e as montanhas que me separavam do mar, dos faróis.
Ouvindo chocalhos ao longe, com a ajuda dos binóculos, observei a neve no glaciar e inspirei.
Antes de descer, daquelas surpresas de viagem: gente conhecida, gente da minha terra, oliveirenses.
Quanto à descida, como podem imaginar, foi idêntica à subida. Com a vertente que estava a morrinhar e na parte final a chover, eu estava cansado e penso que passei pelas brasas, ao som dos espanhóis.
Chegado ao Santuário a chuva acalmou e foi hora de retomar a Cangas de Onís para reabastecer e rumar a sul pela N-625.
Ao cruzar Sames virei à esquerda e subi subi subi subi. Quando já estava cansado de subir, uma placa à direita indicava miradouro. Subi subi subi subi subi, tanto que estava a ver que nem em primeira conseguia transpor a subida, para chegar a um miradouro acima das nuvens.
Tudo o que sobre também desce e engrenei a moto em segunda velocidade e vim por lá baixo a ver se ela travava sozinha. Entrei novamente na estrada principal em Ceneya.
A partir daqui é foi a emoção completa!
Juntem as melhores curvas dos ralis de Monte Carlo, Córsega, Madeira e uma pitada de St. Gallen para Wieldkirch. Está tudo ali. Fazia aquela estrada 20 vezes ao dia e não me cansava, dada a adrenalina e o gozo.
A meio do Desfiladeiro de Beyos, parei para almoçar: canja de galinha e vitela estufada, num restaurantezinho em cima de uma ponte, entre os muros de pedra bruta.
Confortavelmente almoçado, prossegui o caminho, subindo aos poucos até aos 1280 metros de altitude, em Puerto del Pontón, mesmo antes de se voltar a virar à esquerda para entrar no Parque Nacional.
Queria chegar a Cain, ultima aldeia antes da estrada acabar; contudo, antes disso, ao passar Posada de Valdéon tratei de arranjar hotel. Um dois estrelas por trinta euros, com net a funcionar apenas na recepção e quatro euros pelo pequeno-almoço. Há melhor?!
Os nove quilómetros até Cain foram feitos em ritmo de passeio, a apreciar a paisagem, os desfiladeiros, os animais. Marcos de escalada e placas de estrada com inclinações que variam dos 13 aos 20% são vulgares.
Cain é uma pequena aldeia com meia dúzia de casas e albergues, com umas vendas de produtos regionais e algum material (pouco e antiquado) de caminhada.
No regresso, fiz ecoar o escape da moto pelo monte.
No centro de Posada de Valdéon há um ou dois cafés onde está gente que veio até aqui como eu, ou de bicicleta ou a pé e alguns até vieram de carro. Vou até lá, há sempre estórias para ouvir e contar.





18.8.16 - Cariño | Bares | Punta Roncadoira | San Cibran | Ribadeo | Tapia de Casariego | San Agustin | Luarca | Busto | Oviñana | Peñas | Fresnos



Missão cumprida: cheguei à Praia das Catedrais.
Um sol radiante e quente brindou-me com a sua presença o dia todo. Cariño estava bonita e todo o percurso até ao Faro de Bares foi feito a disfrutar a paisagem que oscilava entre promontórios e a Ria de Ortigueira com inúmeras praias de areia branca e mar azul.
No Faro de Bares, junto a umas antigas instalações militares, algumas pessoas ainda pernoitavam nas suas autocaravanas quando lá cheguei.
Com uma cúpula em vidro, o farol é bonito e da Punta Estaca pude ver, à esquerda, o Cabo Ortegal e as eólicas por onde tinha passado ontem. À direita, parte do que se ía desenrolar no dia de hoje: Punta Roncadoira e Cabo San Cibran.
Antes de sair da Punta Estaca, subi por uma estrada estreita a um hotel de montanha. Aí conheci o José Ignácio que, na sua BMW, me disse ter feito várias vezes o Lés-a-Lés. Também de lá do alto vi a Illa Coelleira, entre todos estes cabos, que, segundo consta, albergou oposicionistas a Franco durante a Guerra Civil.
Dali, acompanhando as rias de Barqueiro e de Viveiro, fui à localidade de Faro; subi ao monte, e na descida tomei uma estrada por uma praia de surfistas que me fez chegar ao farol.
Seria meio-dia e um casal francês, com uma bebé, almoçava calmamente. Deu-me a fome e comi um muffin que tinha trazido do pequeno-almoço.
Ao fundo umas gaivotas também deveriam almoçar, dado os voos rasantes que faziam no mar calmo, entre barcos de pescadores e velas.
Dois faróis e a Praia das Catedrais e tinha a viagem que estava planeada dada como terminada.
Primeiro farol, San Cibran: não vão. É feio, horrível, assim como a vila que o alberga. Deverá haver por ali extração de minério ou fundição de alumínio e nota-se isso na paisagem.
A partir de San Cibran terminou o país encantado, com florestas e praias lindíssimas e paisagens que exigem silêncio para as contemplar, de tão belas que são. Dali até Ribadeo, a fronteira da Galiza com as Astúrias, vê-se aquela Espanha que estamos habituados quando cruzamos a fronteira em Valença: casas feias, sem graça nenhuma e uma costa aberta sem montanha por perto.
Apesar disso, antes de Ribadeo, o marco desta viagem: playa de As Catedrais.
É uma praia com a rocha recortada e formando abóbadas como que se se tratassem de catedrais góticas.
Estavam milhares de pessoas e não me fui possível descer ao areal – controlam as entradas por causa da preservação da praia e das marés; e só havia possibilidade de descer ao areal na segunda-feira.
Contudo, do topo, caminhando pela falésia, podemos ver toda a praia e observar os arcos que lhe dão o nome.
Da praia, pela costa, em versão mista de pouco asfalto e nenhum asfalto, fui até ao Farol de Ribadeo.
Último da Galiza para leste, podemos observar o antigo e o novo, ao lado um do outro, num alto de um promontório com um parque de merendas. 
E agora?! 1.000.000 USD question.
Qualquer que fosse a resposta teria que chegar, pelo menos até Gijon.
Mas antes disso, entrando nas Asturias, há que ver faróis asturianos.
O primeiro que aparece é logo ali à frente em Tapia de Casariego. Um farol sem graça nenhuma, igual a outro que vi durante a tarde.
Contudo, não sei se pelo nome italiano da vila ou não, havia ali muito de Positano. Por isso, para meditar na resposta de um milhão de dólares, nada melhor que parar, comer percebes e beber um fino ou dois.
Passei ali parte da tarde a ver os barcos de pesca e a deliciar-me com umas percebes fresquíssimas.
Enquanto pensava sem conseguir ter a resposta correcta, ligou-me um Xavier a falar de algo que ainda não sei bem o que seria. Por isso Xavier, começa a pensar onde vais pagar o jantar de Sábado!
Entrando nas Astúrias voltamos a ver algo diferente: campos com plantações de milho e muitas vacas a pastar no prado; fiquei com a sensação que tive nos Açores: os asturianos vivem do mar ou da agricultura? Certamente dos dois, e tornam a paisagem muito agradável e pacífica.
Embalado pelas percebes e pelas cervejas, segui para o Cabo de San Agustin – lembro-me do nome porque é o mesmo de um baterista do Julio Iglésias, numa música que gosto bastante ( e que não é do Júlio, ele faz apenas e só um cover com um sotaque à Tony Silva).
De San Agustin vê-se o farol de Busto mas, pelo meio, fica o de Luarca: uma bela surpresa.
A seguir para Busto, já sem bateria no telefone para confirmar o GPS e sabendo que deveria seguir duas estradas – N634 e, depois N632 – enganei-me e fui para a outra vila ao melhor estilo italiano, com os barquinhos no mar e a vila a erguer-se por uma escarpa e a estrada em carrocel em torno dela.
Numa curva mais apertada, de frente para o mar, o farol, antigo, indica aos pescadores onde está a porta de casa.
O farol de Busto é tão desinteressante como o de Tapia e, para se chegar até ele, anda-se por uma estrada estreitíssima entre vacarias, onde o cheio a natureza é inigualável.
Oviñana também tem pouco para ver, e fui enfadado para o Cabo de Peñas.
A melhor paisagem para terminar o dia: com o sol a pôr-se, o mar toma tons de dourado e do alto da escarpa em frente ao farol, escalada como se de uma cabra montesa se tratasse, o farol imponente toma conta do golfo da Biscaia. Premonição número um.
Do Cabo Peñas, maravilhado com a paisagem, após uma simpática conversa com um grupo de espanhóis, segui para Gijón.
Dos hotéis de uma a quatro estrelas, não havia uma cama (não encontrei nenhum de cinco estrelas para perguntar).
A melhor opção seria seguir para Oviedo, afastando-me da costa.
A caminho de Oviedo, obras ou um acidente, causame uma fila na estrada e decidi sair para outra estrada em direcção a Santander quando, numas luzes brancas e rosa, vejo um hotel de beira de estrada. É já aqui!
Não tinham quarto. Mas indicaram outro a um quilómetro de distância, ao lado de luses rosa, típico das estradas espanholas.
Assim, às dez da noite, cheguei ao quarto, o mais caro da viagem e o que tem menos qualidade, tendo uns camiões e autocarros à porta e estando a algumas dezenas de quilómetros do mar. Premonição número dois.
Como gastei o dinheiro do jantar no almoço, sentado numa secretária, comi um bacalhau com feijão-frade; delicioso. E sentei-me a escrever.
A resposta à questão “e agora?!” tinha três hipóteses: ou ir directo a casa, ou ir aos Picos, ou tentar chegar a Biarritz fotografando o resto dos faróis.
Estava inclinado para Biarritz e a vontade de voltar a percorrer a belíssima costa basca. Mas são quatrocentos e cinquenta quilómetros, em para arranca para tirar fotos, que, para um dia, iam ser muito complicado.
Com a ocorrência a empurrar-me para dentro, amanhã sigo para os Picos e, depois, para Puebla de Sanábria e entro em Portugal em Bragança.
Por isso Xavier, vai pensando!