domingo, 27 de dezembro de 2015

27.12.15 - Abrantes | Mora | Alcaçovas | Aljustrel | Ameixial | Faro

O sol brilhava no Tejo, estava cheio de vontade de andar de moto, reinando a boa disposição. A cantar qualquer coisa do Jorge Palma, foi com rapidez que alcancei Ponte de Sôr, Montargil e Mora.
Entre Ponte de Sôr e Montargil, pelo "pequeno" jacto privado estacionado no aeródromo, as casas e condomínios sobre a albufeira da barragem e alguns carros, parecia que estava na Suíça.
Em Mora,  ao entrar na vila, tive uma visão australiana: para divulgar o fluviário, colocaram na estrada placas amarelas com as espécies que se podem encontrar nos rios, a exemplo do que se vê com cangurus, crocodilos e tubarões, na Austrália. Muito giro!
Também em Mora tive a primeira paragem demorada do dia: encher o depósito e contar a razão da minha viagem à gasolineira, cujo sobrinho tem um carro muito bom e também anda muito depressa até chegar ao Algarve.
Moto atestada de gasolina, foi tempo de rumar a Alcaçovas. Não sei por que razão, fiz esta parte do percurso muito mais devagar do que tinha vindo até então.
A partir daqui comecei a ver algo que gosto muito: o montado. Aquilo que deveria ser a agricultura portuguesa, a bem da qualidade e sustentabilidade: o sobreiro, o porco e os restantes animais. Num ecossistema perfeito, numa simbiose única que se nota na qualidade dos produtos que chegam à nossa mesa.
Em Alcaçovas, dado o programa da SIC Notícias " Ir é o melhor remédio", com Teresa Conceição e Martin Cabral, procurei o Museu do Chocalho. " Fechado, é domingo". A fábrica, igualmente fechada.
Queria um chocalho, agora que é património imaterial da humanidade, e consegui que um senhor me fosse abrir a sua loja para eu comprar um. Usado, mais bonito que os novos que ainda brilham muito. " Sabe, eu também fabrico mas não faço publicidade disso", disse-me o senhor a medo.
No Torrão tirei fotos na entrada da vila, junto à fonte; a partir de Odivelas, mas especialmente depois de Ferreira do Alentejo, o vento foi muito, provocando alguns calafrios: ora era um travão ora me empurrava lateralmente.
Depois de Ervidel, junto à Barragem do Roxo, vi um grupo de caçadores. Era hora do almoço e parei a perguntar onde podia almoçar bem e produtos regionais: "entra em Aljustrel que é tudo bom". Fui ao Cabecinha.
De entradas serviram-me um paio de porco preto e salada de ovas. O paio estava magnífico. Depois, uma sopa de cação, com muito pão, coentros e duas postas generosas de peixe. Um sabor divinal!
Depois de almoço, em vez da sesta, fiz-me à estrada.
Com o vento forte, queria passar rapidamente Castro Verde e Almodôvar e entrar na Serra do Caldeirão, para estar mais abrigado. Assim foi.
Quando comecei a subir o Caldeirão, o vento parou. Com as curvinhas do Caldeirão, senti-me um Rossi, com a bota a roçar a estrada por diversas vezes, num carrossel estonteante. Sobe e desce, curvas abertas, rápidas e curvas apertadíssimas, feitas em 2ª e 1ª velocidade, com o joelho a ir ao chão. Loucura, bem dizia a placa que esta estrada á património!
Não sei se é o destino, se é feitio ou o meu medo de ficar sem gasolina: a exemplo de todas as vezes que passei aqui de carro, parei na bomba de gasolina do Ameixial onde, o mesmo gasolineiro com um casaco do ACP Rali de Portugal, me serviu. Mais dois dedos de conversa antes de rumar a Faro e ao marco número 737.
Perdi-me em S. Brás de Alportel - não havia indicações da N2 - em Faro tive que atalhar devido às obras na cidade mas cheguei ao dito cujo marco.
Que alegria! Parecia que tinha ganho uma corrida.
Foi um marco, foi um check no meu mapa de viagens.
Aconselho vivamente a fazerem este percurso, de moto, carro ou bicicleta. Aproveitem.
Uma estrada que tem 737 motivos de interesse, que passa por localidades lindíssimas do nosso Portugal.
Eu fiz em dois dias porque conheço a maior parte dessas localidades; mas pode demorar uma semana ou mais, sendo que há tanta coisa para ver, ler, comer, beber, viver. Passei por 10 distritos, inumeras aldeias, vilas e cidades. Vi aves de rapina, cegonhas, pardais, garças, porcos, vacas, ovelhas, cavalos. Estive na serra e no campo, cruzei o Douro, Mondego, Zêzere e o Tejo, apenas para referir os maiores. Passei imensas albufeiras e barragens.
Jogar com números e tirar fotos nos marcos desses números é um must: 100, 357, 555, 666, apenas para dar alguns exemplos.
Portugal tem, no máximo 561 km de comprimento, desde Melgaço ao Cabo de Santa Maria. A estrada tem 737 km, ou seja, quase duzentos quilómetros de curvas que acrescentam interesse.
Neste momento descanso no Stay Hotels de Faro. Central acessível, uma simpatia de atendimento, um bom banho e excelente cama: o luxo q.b. para um aventureiro solitário.
Abraço, amanhã regresso a casa.







26.12.15 - Oliveira de Azeméis | Chaves | Lamego | Penacova | Abrantes ( N2)

Há quem tenha a Route 66, a Carretera Austral, a Panamericana. Nós temos a Nacional 2: de Chaves a Faro, outrora um conjunto de Estradas Reais e Nacionais que, em pleno Estado Novo, se uniram para ligar o topo norte ao topo sul do país.
Um percurso lindíssimo, num sobe e desce entre serras e vales, uma espinha dorsal do que deveriam ser as cidades e vilas mais importantes do país.
Há anos que queria fazer este percurso - com o João, o Nico e o Domingos, de Mustang - mas nunca houve oportunidade. Fim-de-semana natalício, temperatura elevada para a altura e céu limpo: eis o que eu necessitava.
Saí de Oliveira de Azeméis às 8:30 da manhã, em direcção a Chaves. Não é importante, apenas descrevo porque foram quilómetros acumulados. A32 e autoestradas seguintes, a velocidade constante para não estragar os pneus da Transalp.
Chegado a Chaves foi tempo de atestar o depósito, comer uma maçã, tirar a foto junto do marco da estrada com o Km 0 e... seguir viagem.
Às 10:30 o sol subia e aquecia o ambiente. Conduzia animado, contente por estar ali, cantarolava Chico Buarque na ecofonia do capacete.
A exemplo de como a estrada Nacional 2 surgiu, como um conjunto de várias estradas, retalho do país, também eu já tinha estado em vários locais da Nacional 2.
Assim, de Chaves até Vila Real, passando por Vidago e Pedras Salgadas, não parei. Já o tinha feito em Fevereiro.
O mesmo em Vila Real, estive lá a correr aquando da visita do WTCC.
Descendo de Vila Real para Sta. Marta de Penaguião e o Douro, a Régua, pelo zigue-zague que percorre os socalcos do nosso melhor néctar. Também não fiz nenhuma paregem prolongada, apenas desfrutei a condução.
Assim, a primeira paragem a sério foi em Lamego. No centro da cidade, parei em plena praça que acolhe a escadaria do santuário da Nossa Senhora dos Remédios, para tirar uma foto com a moto. Ou pela ousadia ou pelo amarelo fluorescente das malas da Alpinestars, fui o centro das atenções.
De Lamego segui para Viseu.
Se até aqui a Estrada Nacional 2 estava bem assinalada, depois desaparecem as placas, os marcos não são bem visíveis e parece que não há interesse turístico em manter este ícone das roadtrips. Custa tão pouco...
De Lamego segue-se para Castro Daire e, depois, para Viseu. Como não choveu muito, a estrada continua bonita, avermelhada e castanha, com as cores de Outono que vi há dias.
Em Viseu voltam a desaparecer as placas da Nacional 2. Mas com recurso ao GPS lá consegui encontrar o rumo e seguir para Tondela e, depois, Santa Comba Dão.
Se até aqui a estrada era em zigue-zague, depois de Viseu a estrada entrou num eixo mais certo rumo a sul.
Em Santa Comba foi tempo de voltar a atestar o depósito para, quilómetros depois e após a Aguieira, parar junto ao Mondego, em Penacova, para tirar fotos.
Góis, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos. Nomes do Rali de Portugal, por onde passei, com que sonhei, em tempos, realizar em carros de competição.
Por falar em nomes, a Nacional 2 está repleta de nomes das nossas piadas: "Colo do Pito", "Picha", "Venda da Gaita", "Escalos de Baixo". Até nisto o percurso é rico!
De Góis até Pedrógão o zigue-zague voltou; de tal forma que, sabendo que deveria rumar a sul, pela posição do sol andei muitos quilómetros para norte, este e oeste.
Cruzei o Zêzere na Barragem de Cabril e, de lá, vi o sol a baixar por entre pontes. Um escarpa separa a antiguidade da modernidade, como que a altura que separa as pontes sejam a diferença civizacional. Será?!
Na Sertã as iluminações de Natal davam um brilho diferente ao rio, com muitas famílias a aproveitarem o fim do dia de inverno para passearem..
O sol ia-se pondo atrás das montanhas e o frio passava o casaco e as calças.
Debaixo de um céu avermelhado, com as estrelas a começarem a aparecer, cruzei Vila de Rei em direcção a Abrantes.
Nove horas e meia depois de começar a andar, parei. Quase 600 km depois de sair de casa é tempo da moto descansar; e eu também. Amanhã deverei chegar a Faro.









domingo, 13 de dezembro de 2015

7.12.15 - Freixinho | Lapa | Penedono | S.João da Pesqueira | Pinhão | Régua | Oliveira de Azeméis

Abrindo de manhã a janela do quarto, o nevoeiro subia lentamente das águas frias da barragem; Aquilino conhecia aquela terra melhor que ninguém: terra dura, da pedra e da vida, enrijecendo os corpos e as almas. Uma terra onde, com os dentes serrados, se fala de cogumelos, castanhas e, caminhando para norte, do Douro.
Depois de um pequeno almoço reforçado com queijos, presunto, compotas caseiras,  segui viagem rumo à Lapa.
No alto de Sernancelhe, um santuário do que remonta ao Sec. XV, edificado da rocha com rocha, protege a imagem da Virgem Maria, datada do Séc. IX. Conta a lenda que uma menina muda, entrando numa gruta, encontrou a imagem escondida por religiosas, cinco séculos antes. A sua devoção foi tal que a Virgem deu-lhe o dom da fala.
Um edifício cobre a gruta, alberga a imagem e um crocodilo. Sim, um crocodilo! Depois surgiram outras construções, como um colégio. Ao Domingo a venda de produtos regionais é motivo de romaria.
De lendas vive aquela região e eu juro que comigo ficam os segredos lá passados; lendas ou não.
Depois da fonte das três bicas e de ver a nascente do Rio Vouga, o caminho de infância continuou: Penedono.
Na estrada estreita, ainda antes da Beselga, olhando para o alto já se vê o esguio castelo.
Datado do Sec. X, disputado por cristãos e muçulmanos, foi depois aproveitado por D. Sancho I para proceder ao repovoamento da região, na altura fronteiriça,  através de Foral.
De xisto e granito, despido, com a excêntrica forma de trapézio e com ameias piramidais, lá no alto da vila medieval, vê-se a imensidão das Terras do Demo e a Corga, para meu regalo.
De Penedono o destino foi para norte, até à Pesqueira.
Gente antiga, olhares de soslaio para com os estranhos mas a simpatia natural que surge com com o primeiro bom dia.
Depois do repasto, foi tempo de ir até ao Alto Douro Vinhateiro, descendo até Pinhão.
Da ponte de ferro, tão característica na nossa paisagem pós revolução industrial, vê-se o Douro e o Pinhão a abraçarem-se: um forte e outro mais fraco mas sempre juntos, mantendo um equilíbrio perfeito e uma harmonia com a pequena vila do Séc. XIX.
Com o sol a baixar e a viagem a chegar ao fim, foi tempo de percorrer a bela N222 até à Régua, ao coração do Vinho do Porto.
Dois dias pela Beira Alta, aproveitando um fim-de-semana e ponte antes do feriado. Dois dias de regresso à meninice e infância. Dois dias que podiam ter sido de sonho, caso não os tivesse vivido.





terça-feira, 8 de dezembro de 2015

6.12.15 - Oliveira de Azeméis | Vouzela | Folgosa | Vila Nova de Paiva | Freixinho | Moimenta da Beira

Domingo; o sol ia crescendo timidamente e a temperatura parecia querer subir. Mas o corpo pedia acção e a acção estava de onde o sol vem, para a serra.
Preparei a Monte Campo nova, azul e cinza, com 30 litros, e fiz-me à estrada.
N1 até Albergaria para, depois, subir o Vouga. A estrada estava escorregadia e não permitia grandes veleidades; o sol penetrava os ramos e as folhas das árvores e criava uma atmosfera acolhedora.
Com tanta curva-contra-curva, a fome apertou e a primeira paragem  foi para um café e um pastel, no Café Central de Vouzela. Uma delícia, como sempre.
Bom almoço e cedo, em Cambra? Ou almoço onde der e à hora que for?
Como a ideia era passar Castro Daire, não acontecendo como da última vez, decidi continuar viagem.
Passar S.Pedro do Sul é recordar a infância, é recordar passar nesta mesma estrada a caminho de Penedono ( o destino final), é lembrar-me da subida de paralelos com as vendedoras de laranjas, do Peugeot azul ( ou cinza, depende do ano), do carro cheio de castanhas e batatas, coisas "que a terra dá".
Asfalto bom e um percurso de grande beleza entre S. Pedro do Sul e Castro Daire. Com o tempo seco dos últimos dias, as árvores mantém as folhas e dão um colorido outonal a todo o cenário:  amarelo, laranja, vermelho escuro.
Como é bonito o nosso país!
No alto da serra, onde a a N226 dá lugar à N225, junto ao cruzamento com a N2 e a A24, desci por uma rua estreita e íngreme que me levou à praia fluvial da Folgosa.
Que encanto. Uma água límpida, cristalina, que o frio ajuda a tornar ainda mais brilhante. Cavalos e um rebanho, uns pássaros a bebericarem na água. Com passo certo, um conjunto de pedras ajudam a atravessar o rio Paiva, a caminho de Santiago.
De lá, com a fome a apertar, o destino foi Vila Nova de Paiva.
"- Onde posso encontrar um restaurante de comida tradicional?
- De onde?".
Não havia arroz de míscaros e o cabrito já tinha sido um jovem rebelde, há algum tempo.
Em Vila Nova de Paiva subi, por um empedrado, cheio de musgo, à capela de Sto. Antão e ao miradouro. Eólicas, um miradouro para as eólicas. Triste país este.
Com o espírito de Aquilino, envolto no ventre de nevoeiro, rumei ao Freixinho, mesmo ao lado da barragem de Vilar.  
O repouso foi no Hotel Rural Convento Nossa Senhora do Carmo, um convento restaurado, com uma bonita sala de jantar ornamentada com um grande espelho. Quartos com uma decor condizente com o convento e o local ideal para uma escapadinha com a companhia certa.
Por falar em jantar, aventurei-me no meio do nevoeiro e fui até Moimenta da Beira, provar o Bacalhau à Cabicanca. Muito bom!






22.11.15 - Bueu

Quando um vídeo vale mais que mil palavras:


31.10.15 - El Gouna | Cairo

A última etapa do Cross Egypt Challenge é, normalmente, a verdadeira aventura. Este ano não podia ser diferente: foram quase 600 km de etapa rolante, em sentido contrário ao da segunda etapa, com uma entrada apoteótica no caos do trânsito do Cairo, obrigando ao encerramento do anel que liga os vários pontos da cidade; às 16:30 estávamos no Cairo, depois de mais de 10 horas em cima da scooter.
Mas antes de lá chegar, tive a difícil tarefa de levar a scooter com "Harley sound" até ao Cairo.
Não repararam o escape e a pequena scooter fazia um barulho ensurdecedor. Um motim dos taiwaneses - coitadinhos, uma scooter não pode fazer barulho! -  levou que a organização me mandasse rolar sozinho entre as ultimas scooters e os camiões.
Um erro deles levou-me a fazer a pior etapa em dois anos de rali.
Enfim!
Como se isso não bastasse, ainda me tive uma menina egípcia que nunca sentou o rabinho numa moto ou scooter a chamar-me à atenção porque a minha condução era perigosa: andava muito depressa e saltava nas lombas.
Enfim!
O que vale são os amigos e o Drew deixou o seu grupo para vir rolar comigo.
A chegada foi o caos mas podémos tirar as fotos nas pirâmides.
A chegada foi um caos mas vivemos a camaradagem típica nestes momentos, com muitos beijos, abraços, fotos, bandeiras dos vários países a voarem ao vento, muita cerveja e promessas de reencontros.




segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Toda a Esperança do Mundo

Sábado, com uma tarde soalheira no Porto, fui-me enfiar numa antiga casa ou armazém, lá para os lados da Campanhã, na rua de Miraflor; o espaço Mira.
Com uma tarde solarenga,  em vez de aproveitar esta réstia de sol, esta dádiva, fui a uma apresentação de um livro.
Sábado, dia de luto mundial pelos tristes acontecimentos de Paris, fui ver fotografias de Alfredo Cunha e ouvir as estórias que compõe a história de vida do Luís Pedro Nunes, de Fernando Nobre e de todos os que trabalham com a AMI.
Que bela tarde de sábado.
Uma lição de vida, uma lição de história, relembrando que a mesma é viva, que não está enclausurada nos livros. Paris é reflexo disso mesmo ou o que viveram os nossos interlocutores de "Toda a Esperança do Mundo" no Níger, no Bangladesh, na Roménia ou no Nepal.
Durante a apresentação, emocionei-me várias vezes. Ouvi o Luís Pedro e lembrei-me do que vivi num hospital em Aswan ou a alegria das crianças pobres de Maputo.
Lembrei-me de centenas de pessoas do Porto, de Lisboa, de Oliveira de Azeméis, um pouco de todo o lado, que vive miseravelmente.
Ouvi o Luís Pedro, Alfredo Cunha e Fernando Nobre e vinquei, ainda mais, o porquê de gostar de viajar: conhecer o mundo, novas pessoas, culturas, formas de ser e de estar. É estudar sem ser nos livros, é gravar na pele e na mente o conhecimento.
Li-o de uma ponta à outra, ávido de conhecimento, de ver e ler mais e mais. Cada ponto do mapa, cada conversa com uma pessoa que vive, trabalha, sonha noutro canto do mundo. 
O livro, numa brilhante edição da Porto Editora, com uma qualidade capaz de espelhar o olho de Alfredo Cunha, é forte no sentimento, poderoso na escrita e arrepiante na imagem.
É uma lição e temos obrigação de agradecer à AMI o seu trabalho ao longo de 30 anos.
Estamos a chegar ao Natal; é época de, tradicionalmente, oferecerem-se presentes. Coloque-o no topo das suas preferências; vale a pena e ajuda a ajudar.



 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

30.10.15 - Marsa Alam | El Gouna

O dia amanheceu com o sol no mar, iluminando de forma mágica a praia de Marsa Alam. Aos poucos e poucos, as águas do Mar Vermelho começaram a tomar as suas cores características: o azul muito claro, de onde sobressaem o vermelho, o verde e o azul do coral e dos peixes.
Dado o cenário, antes do pequeno almoço, levei um dos fotógrafos para as dunas para tirar fotos comigo. Ficaram lindas!
A história da etapa não é muito: foi uma tirada rolante, quase sempre em linha recta, tendo como paisagem o mar - à direita - e o deserto oriental à esquerda, rumo a norte.
Como estória da viagem, sensivelmente a meio da etapa, o escape da scooter partir pouco depois da saída do colector.
Tive que parar, tirar o resto do tudo, a panela e o guarda lamas ( incrivelmente é tudo fixo pelo mesmo parafuso) e acelerar para ir ao encontro do meu grupo.
Com tudo isto, fiquei com uma Harley scooter, dado o barulho ensurdecedor que o meu pequeno pónei ( direitos de autor a quem de direito) fazia e a pouca velocidade que atingia.
Chegados a El Gouna, esperava-nos um dos melhores resorts do Mar Vermelho, e um resto de dia a ler Le Carré, esparramado na areia.




domingo, 1 de novembro de 2015

29.10.15 - Luxor | Marsa Alam



A manha de hoje começou com a excitação da primeira prova do campeonato: todos acordaram antes do previsto e todos queriam  sair quanto antes do hotel porque necessitavam de voltar à estrada, à adrenalina, à acção.
E por falar em estrada, que estrada! Para alcançarmos Marsa Alam é necessário cruzar as montanhas do Deserto Oriental e as suas inúmeras curvas. Os egípcios não sabem o que fazer com tamanho carrossel, os americanos, taiwaneses e brasileiros, idem aspas aspas. Restava o português, o alemão, o inglês e o contingente italiano para dizerem: finalmente algo a sério. Em dois anos de Cross Egypt Challenge este foi o melhor percurso de sempre.
Ciente das dificuldades da organização num cenário destes, deixei-me ficar para ultimo, atrás dos camiões de abastecimento, tendo como objectivo desfrutar ao máximo, ter toda a adrenalina possível e chegar aos pontos de paragem ao mesmo tempo que todos os outros. Objectivo cumprido. No encadeado, foi com facilidade que ultrapassei as outras scooter 150 cc e foi com a sensação de vitória que deixei para trás as potentes 400 cc.
Pelo caminho vi algo que nunca tinha presenciado, em dois anos de rali: uma cáfila selvagem.
Chegados a Marsan Alan, em vez de um luxuoso hotel de 5 estrelas tínhamos um acampamento montado dentro de um festival de cultura beduína, numa praia de sonho. Mas antes do festival, foi tempo de ir mergulhar.
O Mar Vermelho é um spot obrigatório em qualquer Log Book de um mergulhador e, por isso, não podia perder a oportunidade.
Um mergulho ao final do dia, com o sol a pôr-se, não foi o melhor em termos de visibilidade mas pude observar os corais, peixe palhaço, peixe trompete, peixe borboleta, uma tartaruga, uma manta e uma moreia.
De volta ao festival, a simpática Mariam – uma egípcia loura e olhos verdes, com rastas e um estilo hippie, que mais parecia do norte da Europa – explicou-me o que era o festival dos beduínos. Várias tribos de todo o país juntam-se e fazem corridas de camelos. O resto do tempo, cantam e dançam. Durante a noite fui até algumas fogueiras das tribos, ouvi os seus cânticos e uma sonoridade familiar com a Capoeira, bebi chá e vivi algo único.
Feliz, fui para a tenda.






27|28.10.15 - Luxor

Começo esta crónica referindo que juntei aqui os dois dias de descanso que tivemos em Luxor. Normalmente escrevo um episódio por dia mas, dado o que aqui vivemos, pela concentração dos factos e pelo restrito acesso à internet, decidi que é preferível ser assim. Se o primeiro dia foi vivido com grande emoção e intensidade, o segundo,em que pretendia trabalhar mas era impossível aceder ao mail ou CRM, restrito às facilidades do hotel, foi de cortar os pulsos!
Paramos em Luxor dois dias por vários motivos: eleições e não podermos circular no dia de hoje; alteração inicial do percurso com a corte das etapas do Sahara Ocidental; festejos da quinta edição do Cross Egypt Challenge.
Luxor é uma cidade mágica, com os famosíssimos templos de Karnac, o Vale dos Reis e o Vale das Rainhas, além do bazar e o Palácio de Inverno.
No ano passado estive no Vale dos Reis. Poder ver a imensidão dos templos do ar é algo que não podemos recusar e, mal me deram essa oportunidade, embarquei num balão de ar quente para sobrevoar Luxor.
Ainda antes do nascer do sol, balões de variadas cores insuflaram-se e deram outra cor ao céu de Luxor.
O sol nasceu e os templos sorriram. Lá do alto, pode ver as sombras, os vermelhos e os castanhos reflectidos na pedra tumular dos Senhores do Egipto. Lá em cima, muito acima do que voam as aves, observei a linha perfeita que separa o deserto das margens verdejantes do Nilo; a vida e a morte.
Cá em baixo, à nossa chegada, dezenas de crianças pobres, montando os seus burros como cavaleiros e com o sorriso típico de pessoas da sua idade. “ Foto? Ten pounds!”.
Durante a tarde, eu o Drew, a Chel, a Katherine,  o Ralph, o Pete e o Greg fomos fazer compras para o Bazar de Luxor. O Ralph, muito latino no seu espírito de aventura mas muito alemão em tudo o resto – não fosse ele alemão! –, pagava o que os vendedores lhe pediam porque é tudo barato, dizia. Eu, com menos euros no bolso e, sobretudo, na conta bancária, regateava ao máximo para ira dos egípcios e para grande espanto e diversão dos meus companheiros de compras. Penso que fiz bons negócios, não me ofereceram nada no final,  nem um escaravelho ou um hímen para o frigorífico!
Para festejarmos o nosso sucesso comercial, fomos visitar e beber uma cerveja ao Palácio de Inverno. Hoje um hotel Sofitel, outrora o único hotel da cidade, muito british, perfeito para os arqueólogos que começaram a explorar Luxor e que inspirou Agatha Christie em muitos dos seus livros.
No Palácio de Inverno respira-se a Europa do final do século XIX, respiram-se o ar dos salões de Londres e Paris; seria, porventura, uma Tormes para quem projectou tal hotel num lugar tão distante de tudo o resto.
Para finalizar a noite em beleza, dado que no dia seguinte ninguém ia andar de moto ou scooter, alguns companheiros de aventura organizaram uma festa de Halloween. E que festança!
Nos jardins do hotel, na margem do Nilo, rimos, dançamos, bebemos, tiramos selfies - muitas selfies! - , pintados como mortos vivos, como alguém que acaba de ter um acidente ou foi recentemente transladado, esquecendo-se do o voltar a enterrar novamente.
No dia seguinte, esgotei os filmes, os livros e a paciência. Paciência.





quarta-feira, 28 de outubro de 2015

26.10.15 - Hurgada | Luxor


Saímos de Hurgada a grande velocidade, apesar da estrada húmida e enormes charcos com água, vestígios da noite anterior.
Por falar na noite anterior, na turística Hurgada, eu, um britânico-dinamarquês, uma americana, um egípcio católico e um egípcio muçulmano mal-comportado, fomos até ao Buddha Bar.
Alguns árabes, alguns americanos e muitos russos. Era uma festança para durar até ao pequeno-almoço, caso não tivéssemos que percorrer 280 Km pelo interior egípcio.
A sul de Hurgada rumamos a oeste, deixando o Mar Vermelho nas costas, por uma estrada de montanha, cheia de curvas, feita a grande velocidade, entre desfiladeiros de grande beleza. É por estradas como esta que vale voltar ao Cross Egypt Challenge. São estradas onde “Judas perdeu as botas”, longe de tudo e de todos, onde se encontra verdadeiro prazer de condução e visual.
No segundo reabastecimento e paragem para almoço, subi a um monte. Lá do alto, vi a  cordilheira que se estende por quilómetros e quilómetros, com aves de rapina  a sobrevoarem o céu mirando, igualmente, o seu almoço.
Lá do alto, até Luxor, foi sempre a descer. No amarelo rochoso do deserto oriental, um general de quatro estrelas a puxar dos galões mandou parar toda a caravana: por que sim; por razões de segurança; por deve ter acordado mal disposto e deu-lhe um ataque de rigor; ou porque, numa estrada quase deserta, deve ter sido, para ele, um regalo vê-la tão animada que quis participar da festa.
A chegar a Luxor, ao Nilo, a paisagem muda num metro: do árido deserto passa-se automaticamente para os campos verdes com canas de milho e juncos, para uma imensidão de burros e cavalos que servem de meio de transporte de pessoas e mercadorias, para as crianças que vêm para a beira da estrada dizer adeus, aos olhares mais espantados.
Em Luxor esperam-nos algumas surpresas durante os três dias que vamos pernoitar no Sofitel Karnac, na margem direita do Nilo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

25.10.15 - El Sokhna | Hurgada


240 km em linha recta que tinham tudo para serem o mais desinteressante possível. Felizmente, não foi bem assim.
À saída de El Sokhna e durante muitos quilómetros, o Mar Vermelho acompanhou-nos. Mas o dia nasceu nublado e, em vez do azul claro, o mar estava cinzento escuto, fazendo lembrar a nossa Ria de Aveiro nos dias de inverno. Bucólico.
Depois começamos a entrar numa zona mais montanhosa e arenosa. Aqui, com as plataformas marítimas e terrestres, há imensas refinarias, poços de petróleo, piplines, eólicas e tudo quanto se possa imaginar em termos energéticos. Enormes postes de electricidade e tubagens acastanhadas, rasgam a paisagem deserta com um look pós-moderno.
Da partida até ao primeiro reabastecimento rodei com o Drew a fazer de “meu asa” e, com a facilidade do terreno, demos aso a muitas brincadeiras e trocas de gestos mundialmente convencionados. Foi uma risota para nós e para quem nos seguia!
Depois do primeiro reabastecimento tive que parar e deixar o grupo. Quando retomei a marcha, fiz 30 Km sozinho e pude ir todo o tempo a fundo. Com isso, além da diversão extra, ainda consegui retomar a minha posição no grupo a poucos quilómetros do segundo reabastecimento e paragem para almoço.
Na terceira e última parte da tirada, fiquei na cauda, a desfrutar a coisa.
O pior foi quando, a uns 40 quilómetros da chegada em Hurgada, começa a chover; e não era uma chuvinha. Era chuva grossa, daquela que até magoa no pescoço e faz eco dentro do capacete.
Trovões, granizo, tudo alagado e confusão armada; e comigo na cauda. Nunca mais, a partir de amanhã, sempre na frente!
Estamos instalados no Marriot de Hurgada. Está cheio de russos: empregados e casais. Elas lindíssimas, mais ou menos louras ou morenas, esguias e de olhos claros. Eles... who cares?!



sábado, 24 de outubro de 2015

24.10.15 - Giza | El Sokhna

Ontem não cheguei a dançar com a noiva; nem a vi. Não havia internet capaz de suportar tantos utilizadores e, assim, em vez de trabalhar acabei a noite com a Chel e o Drew, no jardim em frente ao quarto deles, a acabar com o stock de cognac que tinha trazido do aeroporto de Barcelona.
Hoje de manhã deixamos Giza em direcção a El Sokhna, no Mar Vermelho.
De manhã foi  anormal aventura de cruzar a cidade do Cairo e o famoso Ring. Apesar de ser sábado ( equivalente ao domingo para os árabes), o transito era muito nesta metrópole de 22 milhões de pessoas.

No Ring e nos seus quase 30 Km de extensão, cruzamo-nos com outdoors enormes, fazendo publicidade às mais variadas marcas e produtos. Comunicar para um universo tão grande como o Cairo requer um grande esforço por parte das marcas para captar numa fracção de segundos os automobilistas. Não é comunicar para um nicho, é comunicar para milhões não diferenciados. No meio de toda a publicidade possível e imaginária, foi com gosto que vi que os outdoors da marca de lubrificantes que patrocina a BMW – não é a eni – utiliza como imagem nos outdoors o carro do DTM com as suas cores. O mesmo se passa com a marca que patrocina a Citroën e o C-Elysé no WTCC. Prova que o desporto automóvel é um excelente canal de comunicação das marcas. Sim, também havia com outros desportos mas em menos quantidade: vi uma vez a cara do Roger Federer e uma ocasião os jogadores do Barcelona numa marca de bebidas; o Atlético de Madrid tem outdoors da sua Fundação e escola de futebol no Cairo.
Voltando à estrada, depois do Cairo, fomos em direcção ao Sinai, a Suez, para depois, descermos até El Sokhna. Entre loucura do trânsito do Cairo e a Riviéra egípcia, tivemos longas rectas que cruzam o norte do deserto oriental. Um deserto com terra amarelada e pedra, ao contrário do que normalmente se imagina num deserto africano.
Ao almoço, na parte mais a sul do canal do Suez, além do normal catering do Cross Egypt Challenge, provamos as comida da roulotte cá do sítio, longe da ASAE e de qualquer norma de segurança e higiéne. Mas estava com e o aspecto da coisa era... pitoresco!
Depois, com as energias repostas, entramos nas curvinhas da Riviéra. Como é boa esta estrada, entre o mar e a montanha, de uma beleza estonteante.
As minha luvas brancas, pretas e vermelhas da Alpinestars, ao segundo dia, passaram a castanhas e pretas!