Começo esta crónica referindo que juntei aqui os dois dias de descanso que tivemos em Luxor. Normalmente escrevo um episódio por dia mas, dado o que aqui vivemos, pela concentração dos factos e pelo restrito acesso à internet, decidi que é preferível ser assim. Se o primeiro dia foi vivido com grande emoção e intensidade, o segundo,em que pretendia trabalhar mas era impossível aceder ao mail ou CRM, restrito às facilidades do hotel, foi de cortar os pulsos!
Paramos em Luxor dois dias por vários motivos: eleições e não podermos circular no dia de hoje; alteração inicial do percurso com a corte das etapas do Sahara Ocidental; festejos da quinta edição do Cross Egypt Challenge.
Luxor é uma cidade mágica, com os famosíssimos templos de Karnac, o Vale dos Reis e o Vale das Rainhas, além do bazar e o Palácio de Inverno.
No ano passado estive no Vale dos Reis. Poder ver a imensidão dos templos do ar é algo que não podemos recusar e, mal me deram essa oportunidade, embarquei num balão de ar quente para sobrevoar Luxor.
Ainda antes do nascer do sol, balões de variadas cores insuflaram-se e deram outra cor ao céu de Luxor.
O sol nasceu e os templos sorriram. Lá do alto, pode ver as sombras, os vermelhos e os castanhos reflectidos na pedra tumular dos Senhores do Egipto. Lá em cima, muito acima do que voam as aves, observei a linha perfeita que separa o deserto das margens verdejantes do Nilo; a vida e a morte.
Cá em baixo, à nossa chegada, dezenas de crianças pobres, montando os seus burros como cavaleiros e com o sorriso típico de pessoas da sua idade. “ Foto? Ten pounds!”.
Durante a tarde, eu o Drew, a Chel, a Katherine, o Ralph, o Pete e o Greg fomos fazer compras para o Bazar de Luxor. O Ralph, muito latino no seu espírito de aventura mas muito alemão em tudo o resto – não fosse ele alemão! –, pagava o que os vendedores lhe pediam porque é tudo barato, dizia. Eu, com menos euros no bolso e, sobretudo, na conta bancária, regateava ao máximo para ira dos egípcios e para grande espanto e diversão dos meus companheiros de compras. Penso que fiz bons negócios, não me ofereceram nada no final, nem um escaravelho ou um hímen para o frigorífico!
Para festejarmos o nosso sucesso comercial, fomos visitar e beber uma cerveja ao Palácio de Inverno. Hoje um hotel Sofitel, outrora o único hotel da cidade, muito british, perfeito para os arqueólogos que começaram a explorar Luxor e que inspirou Agatha Christie em muitos dos seus livros.
No Palácio de Inverno respira-se a Europa do final do século XIX, respiram-se o ar dos salões de Londres e Paris; seria, porventura, uma Tormes para quem projectou tal hotel num lugar tão distante de tudo o resto.
Para finalizar a noite em beleza, dado que no dia seguinte ninguém ia andar de moto ou scooter, alguns companheiros de aventura organizaram uma festa de Halloween. E que festança!
Nos jardins do hotel, na margem do Nilo, rimos, dançamos, bebemos, tiramos selfies - muitas selfies! - , pintados como mortos vivos, como alguém que acaba de ter um acidente ou foi recentemente transladado, esquecendo-se do o voltar a enterrar novamente.
No dia seguinte, esgotei os filmes, os livros e a paciência. Paciência.
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