
Com três dias de viagem pela frente, preparei dois pratos principais - Gerês e Montesinho -, aos quais juntei tudo o resto, digno de figurar num qualquer guia com Estrela Michelin.
Fafe foi o local onde disse adeus à autoestrada e iniciei o “Road to National Parks”.
Queimadela, Várzea Cova, Gontim, Aboim, passar em estradas de asfalto que cruzam a terra e onde sei que se salta, que se atalha, por 1001 incursões pelas terras da gente dos ralis; descer para Vieira do Minho, pelo Ermal, ver o Rio Ave como um fiozinho de água límpida que se perde na montanha e transformar-se, como um super-herói, numa massa enorme de água, local de recreio de milhares de pessoas nos dias quentes de verão.

Cheguei a Vieira do Minho e, certamente, tinha um sorriso nos lábios: estava de volta às viagens, ao prazer de conduzir uma big trail até ao sol se pôr, por aí algures. De acelerar, de ir com o joelho quase ao chão nas curvas mais apertadas, num carrocel entre a floresta típica portuguesa e os rios e o abismo.
Descer até às pontes do Cávado e subir a São Bento da Porta Aberta: o local de paragem nas viagens da escola, onde se compravam bugigangas - que não interessavam a ninguém - mas que eram o motivo do nosso orgulho de criança ao oferecer um galo de Barcelos que mudava a cor conforme a humidade, à mãe. Ou um corta-unhas com a imagem dos espigueiros do Soajo; ou sei lá mais o quê, na ínfima cultura popular de objectos de uso diário.
Por falar em Soajo, o destino seguinte seria esse. Para lá chegar, curva-contra-curva até ao que foi Vilarinho da Furna e, depois, Germil.
Em Vilarinho da Furna tive o momento 007 da viagem, ao descer por uma estrada de terra até à base do muro da barragem e ficar por baixo da turbina, com a água a sair a grande pressão mesmo por cima de mim. Tentei, por várias vezes, fazer poses para tirar uma fotografia de efeito minimamente interessante, com a perpectiva do jorro de água. Fiquei pelos mínimos!
Chegado ao Soajo, com os majestosos espigueiros que se erguem para o céu, o estômago ergueu-se igualmente e clamou por atenção. De nada lhe serviu porque os poucos restaurantes estavam a abarrotar.
Meia volta e fui até ao Lindoso onde, no Dia do Trabalhador, apenas um restaurante manhoso com diárias a condizer me serviu um bife de frango grelhado com batatas encharcadas em óleo. Ao jantar vingo-me, pensei. E assim o fiz! Mas já la vamos.
Queria ir à Cascata do Arada e o melhor caminho era dar o salto para Espanha e voltar a entrar pela Portela do Homem.
Pelo meio do trânsito infernal de turistas em dia de feriado a aproveitar o bom tempo, cavalos selvagens e manadas de vacas e bois mostravam os seus mais variados dotes, dando um ar ainda mais pitoresco a toda a cena. Nas cascatas que embelezam a serra, pessoas de todas as idades divertem-se como se estivéssemos em pleno verão, mostrando os seus corpos ainda brancos à espera que uma qualquer cor se pegue aos pigmentos.

Era final do dia e Chaves estava ali, depois da N103, cheia de encanto.
Realizei a última parte da viagem a cantar, a curtir, a tirar verdadeiro prazer de condução da moto. Foi assim o dia todo!
Cheguei a Chaves e ergui o punho no ar, como se tivesse ganho alguma coisa.
A primeira etapa estava terminada e, ao jantar, ao acompanhar uma cabidela, o encontro com amigos das corridas e das viagens. O mundo é uma ervilha!
Sem comentários:
Enviar um comentário