Há quem tenha a Route 66, a Carretera Austral, a Panamericana. Nós temos a Nacional 2: de Chaves a Faro, outrora um conjunto de Estradas Reais e Nacionais que, em pleno Estado Novo, se uniram para ligar o topo norte ao topo sul do país.
Um percurso lindíssimo, num sobe e desce entre serras e vales, uma espinha dorsal do que deveriam ser as cidades e vilas mais importantes do país.
Há anos que queria fazer este percurso - com o João, o Nico e o Domingos, de Mustang - mas nunca houve oportunidade. Fim-de-semana natalício, temperatura elevada para a altura e céu limpo: eis o que eu necessitava.
Saí de Oliveira de Azeméis às 8:30 da manhã, em direcção a Chaves. Não é importante, apenas descrevo porque foram quilómetros acumulados. A32 e autoestradas seguintes, a velocidade constante para não estragar os pneus da Transalp.
Chegado a Chaves foi tempo de atestar o depósito, comer uma maçã, tirar a foto junto do marco da estrada com o Km 0 e... seguir viagem.
Às 10:30 o sol subia e aquecia o ambiente. Conduzia animado, contente por estar ali, cantarolava Chico Buarque na ecofonia do capacete.
A exemplo de como a estrada Nacional 2 surgiu, como um conjunto de várias estradas, retalho do país, também eu já tinha estado em vários locais da Nacional 2.
Assim, de Chaves até Vila Real, passando por Vidago e Pedras Salgadas, não parei. Já o tinha feito em Fevereiro.
O mesmo em Vila Real, estive lá a correr aquando da visita do WTCC.
Descendo de Vila Real para Sta. Marta de Penaguião e o Douro, a Régua, pelo zigue-zague que percorre os socalcos do nosso melhor néctar. Também não fiz nenhuma paregem prolongada, apenas desfrutei a condução.
Assim, a primeira paragem a sério foi em Lamego. No centro da cidade, parei em plena praça que acolhe a escadaria do santuário da Nossa Senhora dos Remédios, para tirar uma foto com a moto. Ou pela ousadia ou pelo amarelo fluorescente das malas da Alpinestars, fui o centro das atenções.
De Lamego segui para Viseu.
Se até aqui a Estrada Nacional 2 estava bem assinalada, depois desaparecem as placas, os marcos não são bem visíveis e parece que não há interesse turístico em manter este ícone das roadtrips. Custa tão pouco...
De Lamego segue-se para Castro Daire e, depois, para Viseu. Como não choveu muito, a estrada continua bonita, avermelhada e castanha, com as cores de Outono que vi há dias.
Em Viseu voltam a desaparecer as placas da Nacional 2. Mas com recurso ao GPS lá consegui encontrar o rumo e seguir para Tondela e, depois, Santa Comba Dão.
Se até aqui a estrada era em zigue-zague, depois de Viseu a estrada entrou num eixo mais certo rumo a sul.
Em Santa Comba foi tempo de voltar a atestar o depósito para, quilómetros depois e após a Aguieira, parar junto ao Mondego, em Penacova, para tirar fotos.
Góis, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos. Nomes do Rali de Portugal, por onde passei, com que sonhei, em tempos, realizar em carros de competição.
Por falar em nomes, a Nacional 2 está repleta de nomes das nossas piadas: "Colo do Pito", "Picha", "Venda da Gaita", "Escalos de Baixo". Até nisto o percurso é rico!
De Góis até Pedrógão o zigue-zague voltou; de tal forma que, sabendo que deveria rumar a sul, pela posição do sol andei muitos quilómetros para norte, este e oeste.
Cruzei o Zêzere na Barragem de Cabril e, de lá, vi o sol a baixar por entre pontes. Um escarpa separa a antiguidade da modernidade, como que a altura que separa as pontes sejam a diferença civizacional. Será?!
Na Sertã as iluminações de Natal davam um brilho diferente ao rio, com muitas famílias a aproveitarem o fim do dia de inverno para passearem..
O sol ia-se pondo atrás das montanhas e o frio passava o casaco e as calças.
Debaixo de um céu avermelhado, com as estrelas a começarem a aparecer, cruzei Vila de Rei em direcção a Abrantes.
Nove horas e meia depois de começar a andar, parei. Quase 600 km depois de sair de casa é tempo da moto descansar; e eu também. Amanhã deverei chegar a Faro.
Sem comentários:
Enviar um comentário