sexta-feira, 19 de agosto de 2016
19.8.16 - Fresnos | Covadonga | Sames | Cain | Posada de Valdéon
Lembram-se da comunicação via rádio do Senna para a box no final do G.P. do Brasil de 91? Quando ele ganhou a primeira vez em casa?!
Conduzir nas estradas dos Picos da Europa, traduz-se nessa comunicação. Brutal!
Desfiladeiros estreitíssimos onde torneamos a rocha ou fugimos do riacho que corre lá no fundo do precipício. Miramos as vacas e esperamos que nenhuma dela se lembre de saltar para a nossa frente. Tive orgasmos cerebrais ao pensar como será fazer aquela estrada com um carro giro… o Audi do Ekstron, por exemplo. Perguntei porque é que não há um fotógrafo atrás de cada curva porque, em muitas delas, sei que passei perto do chão e do muro.
De manhã cedo, depois de vos contar as aventuras de ontem, deixei o hotel manhoso lá longe. O primeiro destino seria Covadonga e os seus lagos pelo, que, em vez de ir pela autoestrada, à minha boa maneira, apanhei a N-634 em direcção a Santander para, em Arriondas, seguir pena N-625.
O delírio previu-se na N-634, uma estrada larga mas com curvas de montanha apesar de se rolar ao nível do mar e a N-625 foi aquele sonho que fazem os meus olhos brilharem quando me lembro de cada curva, cada toque no travão ou enrolar o punho para sair em força para o desafio seguinte.
Chegado a Cangas de Onís segui directo ao Santuário de Covadonga, meso a tempo de parar a moto e não apanhar o verdadeiro banho do dia, com o céu a cair-nos em cima da cabeça.
Refeito dessa emoção de deus ao ver-me chegar ali, foi visitar o santuário e a pequena capela esculpida na rocha.
Com a estrada para os lagos encerrada das 20 às 8.30 para veículos não autorizados, restou-me apanhar uma carrinha para subir ao ponto mais alto dos Picos Ocidentais.
Na carrinha tinha como companheiros de viagem três casais – que penso que não se conheciam – mas todos extremamente informados sobre onde estavam, ao que iam e o que andam a fazer neste mundo:
- Há alguma utilidade na água dos lagos?
- Não, é só água!
- Para onde vai o excesso da água?
- Escorre por aquele ribeiro: ali!
Ao mesmo tempo que uma das mulheres gritava sempre que cruzávamos uma vaca, ou um precipício, ou um autocarro ou outra coisa qualquer. O que, numa das míticas chegadas da Vuelta, com inclinações de 15%, precipícios são coisas que não faltam; assim como espaço para cruzar três camiões TIR, um burro e o Bergoglio a sacar piões num Ferrari amarelo. Antes rir.
Chegado ao topo, ao segundo lago, subi a montanha e fiquei a ver os dois lagos e as montanhas que me separavam do mar, dos faróis.
Ouvindo chocalhos ao longe, com a ajuda dos binóculos, observei a neve no glaciar e inspirei.
Antes de descer, daquelas surpresas de viagem: gente conhecida, gente da minha terra, oliveirenses.
Quanto à descida, como podem imaginar, foi idêntica à subida. Com a vertente que estava a morrinhar e na parte final a chover, eu estava cansado e penso que passei pelas brasas, ao som dos espanhóis.
Chegado ao Santuário a chuva acalmou e foi hora de retomar a Cangas de Onís para reabastecer e rumar a sul pela N-625.
Ao cruzar Sames virei à esquerda e subi subi subi subi. Quando já estava cansado de subir, uma placa à direita indicava miradouro. Subi subi subi subi subi, tanto que estava a ver que nem em primeira conseguia transpor a subida, para chegar a um miradouro acima das nuvens.
Tudo o que sobre também desce e engrenei a moto em segunda velocidade e vim por lá baixo a ver se ela travava sozinha. Entrei novamente na estrada principal em Ceneya.
A partir daqui é foi a emoção completa!
Juntem as melhores curvas dos ralis de Monte Carlo, Córsega, Madeira e uma pitada de St. Gallen para Wieldkirch. Está tudo ali. Fazia aquela estrada 20 vezes ao dia e não me cansava, dada a adrenalina e o gozo.
A meio do Desfiladeiro de Beyos, parei para almoçar: canja de galinha e vitela estufada, num restaurantezinho em cima de uma ponte, entre os muros de pedra bruta.
Confortavelmente almoçado, prossegui o caminho, subindo aos poucos até aos 1280 metros de altitude, em Puerto del Pontón, mesmo antes de se voltar a virar à esquerda para entrar no Parque Nacional.
Queria chegar a Cain, ultima aldeia antes da estrada acabar; contudo, antes disso, ao passar Posada de Valdéon tratei de arranjar hotel. Um dois estrelas por trinta euros, com net a funcionar apenas na recepção e quatro euros pelo pequeno-almoço. Há melhor?!
Os nove quilómetros até Cain foram feitos em ritmo de passeio, a apreciar a paisagem, os desfiladeiros, os animais. Marcos de escalada e placas de estrada com inclinações que variam dos 13 aos 20% são vulgares.
Cain é uma pequena aldeia com meia dúzia de casas e albergues, com umas vendas de produtos regionais e algum material (pouco e antiquado) de caminhada.
No regresso, fiz ecoar o escape da moto pelo monte.
No centro de Posada de Valdéon há um ou dois cafés onde está gente que veio até aqui como eu, ou de bicicleta ou a pé e alguns até vieram de carro. Vou até lá, há sempre estórias para ouvir e contar.
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