domingo, 21 de agosto de 2016

20.8.16 - Posada de Váldeon | Leon | Benavente | França | Montesinho | Oliveira de Azeméis

Posada de Váldeon tem o seu q de castiço: depois de vos escrever fui para o "café central" petiscar e beber vinho tinto a copo.
Ninguém estava para grandes conversas porque s grupos estavam feitos: montanhistas, locais e dois ou três casais. Mesmo assim, estava cheio.
Dei por mim a ver TV, meia final de basquetebol, EUA-Espanha, com o EUA, claramente, a dominarem o jogo dando escassas oportunidades aos espanhóis de se aproximarem no marcador, sempre pela marca dos 3 pontos, mas sem nunca se revelarem um perigo. Em perigo estava eu porque deveria ser o único apoiante dos EUA.

O café era familiar: o pai ( que não me lembro se o vi mas devo ter visto para falar dele), a mãe e o filho; um rapaz mais novo do que eu mas ainda mais careca do que eu, a falar muito baixo e de forma incompreensível. Passados segundos viu-se logo quem mandava ali e, às nove e tal da noite, a mãe, a discutir com o rebento, que queria fechar o café às dez e meia e, por isso, para ele fazer qualquer coisa. A partir dali qualquer pedido feito era respondido a contragosto; contudo, naquele local eu compreendo: para que é que eles quereriam vender mais?! Para lucrar mais?! E gastariam esse dinheiro no café do vizinho ou a comprar bastões de caminha, recuerdos de Posada e Caín, e queijo de Cabrales? De facto, mais valia expulsar os clientes e irem dormir.
Posada acordou fria mas com um sol lindo, típico de alta montanha, que me fez recordar dias passados em estâncias de ski.
Penduradas nos cabos de electricidade, milhares de andorinhas davam os bons dias a quem passava.
A etapa era longa - a mais longa da viagem - e, por isso, saí bem cedo.
De Posada voltei a subir aos Picos, para este, indo desembocar em Portilla de la Reina. Pelo meio, indo em busca dos raios de sol que me iam aquecendo, foram mais 30 quilómetros em estrada de montanha, por entre desfiladeiros, subindo e descendo.
À saída de uma curva mais apertada tive a plena noção de como será uma largada de touros, na ordem inversa: entre vacas, bezerros e um boi contei - pela foto - 18 cabeças, que ocupavam a estrada toda. Pelo seu olhar, uns eram mais simpáticos que outros e todos, mesmo os bezerros, com capacidade de me mandarem monte abaixo.
Rapidamente tirei uma foto e com ainda maior velocidade guardei a máquina na Shad do depósito. Depois, a medo, dei duas aceleradelas e fui indo quase a passo ao encontro da mana para ver se conseguia passar pelo meio. Aos poucos e poucos as vaquinhas iam abrindo para eu passar até, quase a chegar ao fim do grupo, poder acelerar calmamente dali para fora.
Pela montanha, uma ave de rapina, lá no alto, acompanhava o meu andamento e, na estrada, às poucas pessoas com quem me ia cruzando levantava a mão.
Saindo dos Picos foi altura de regressar a casa.
Primeiro pela N-621 e 625 até Leon, passando a barragem em Riaño e enregelando os ossos com o frio que se fazia sentir.
Em Leon, antes de  rumar a Benavente pela N-630,  parei para comer um bolo que trouxe do pequeno almoço e, sobretudo, para me aquecer ao sol.
Até Benavente e, posteriormente, até Puebla de Sanabria, a estrada são duas longas rectas, cruzando aldeias e vilas desertas, envoltas de uma paisagem amarela de palha seca, tão característica da Espanha desertificada.
Não se via vivalma, apenas mosquitos que, a mais de 140 km/h iam ficando agarrados ao Nau, dando-lhe tonalidades vermelhas, amarelas e castanhas em cima do branco e da fibra de carbono.
Após Puebla de Sanabria, a poucos quilómetros de Bragança, "Carretera de Montaña" aparece escrito em letras gordas numa placa gasta pelo tempo. Traduzido por miúdos: era hora de diversão. E foi!
Cruzada a fronteira por terras de contrabando,foi tempo de parar em França para uma piada no Instagram e comer duas sandes de presunto que dariam para seis.
Observei o Sabor e subi a Montesinho, por asfalto e por um caminho de terra.
Depois... bem, depois foi tempo de enrolar o punho e descer pela A4 e A41 e A32 até Oliveira de Azeméis, por um país que continua tórrido.
Passei seis dias excelentes,  em cima do meu cavalo preto, a aprender, a viver, na esperança de, um dia, alguém querer ler ou ouvir.
Foram quase 3.500 quilómetros de aventuras, a ver faróis, praias, o mar, a serra, a sentir o sol queimar a cara e a chuva a acalmar os ânimos, e que me deixam com um sorriso franco e aberto, como quem descobre um novo amor.
Agora estou em casa e a vida continua.







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