segunda-feira, 22 de junho de 2015

Pelo Império Áustro-hungaro

Começo esta crónica com um pedido de desculpas: na passada quinta-feira, acabei a enviesada crónica do dia, escrita na escadaria da sala de embarque do aeroporto de Memmingen com a promessa que faria um apanhado geral da viagem na sexta.Não cumpri a promessa, não houve tempo e não houve cabeça.
Desde sexta que entrei no ritmo normal de trabalho de quem esteve uma semana fora do escritório. Na Loba, ainda por cima com uma nova secretária, a pilha de reuniões com clientes, mails e projectos a analisar eram mais que muitos.
Não houve cabeça porque sempre que venho de viagem, especialmente de países da Europa Central, fico com uma ressaca descomunal. Eu amo Portugal e ser português, mas contactar com pessoas - classe média - que vivem bem, não de forma faustosa, que encaram o futuro com esperança, faz-me pensar em tudo o que sofremos nos últimos anos. Quando viajo pelo meio de florestas e vejo negócios nessas florestas como o turismo, o mel, os frutos silvestres e penso que no nosso país as florestas servem para plantar eucaliptos, esquecendo-se o tradicional montado, o pinheiro manso, o carvalho, o castanheiro, etc., fico triste.  
Viajar pelo chamada primeiro-mundo, como me aconteceu nesta viagem - Alemanha e Áustria - e noutras anteriores - Suiça, Dinamarca ou Suécia, citando alguns exemplos mais recentes - ajuda a perceber o que é estratégia, planeamento de território e, sobretudo, política; no seu termo mais real e puro.
Não se destroem montanhas para se passar uma auto-estrada, especialmente se ninguém for passar nela. Não se vêem ventoinhas eólicas em paisagens únicas e de património mundial. Não se constrói em cima dos lagos e as cidades pequenas não têm prédios de 10 andares ao lado de casas térreas. OS produtos locais são vendidos em feiras e mercados, sem controlo de uma polícia económica, promovendo a sustentabilização agrícola e uma melhor remuneração dos produtores. Ect., etc.. Não se vêm uma série de erros que por cá proliferam.       
Contudo bem sei que Portugal, ao contrário dos séculos XV e XIX, sofreu um grande atraso civilizacional no século XX. Foi uma longa ditadura e um novo-riquismo atroz. Mas se olharmos os bons exemplos de lá de fora, ainda podemos recuperar.   
Deixando a ressaca de lado e voltando à viagem, começo por contar o porquê de, em vez de uma moto, fui de carro. A moto que tinha alugado, afinal, não estava disponível e para uma igual mas noutra estação pediram-me o dobro do dinheiro. O orçamento não estica mas precisava de realizar a viagem em grande estilo. Com um carro podia "ganhar" um dia de viagem e, com isso, ver mais uma cidade.
Assim, nada melhor que alugar um descapotável. Um TT giríssimo que com os autocolantes que lhes coloquei - especialmente o coração da Chel e do Drew - ficou a matar. Andei uma semana de capota aberta, independentemente se estava frio ou calor, sol ou chuva. Sempre em alto estilo e a bronzear.
Mas atenção, começou aqui um dos problemas da viagem e, por isso, aconselho uma coisa: aluguem sempre um carro a uma companhia internacional e vejam bem as condições de aluguer. Aqui não digo, fica para as palestras, mas andei uns dias como fora-da-lei!
O percurso da viagem oscilou entre natureza e cidades com história. Os Alpes, o Tirol, os lagos austríacos ou o húngaro Balaton.
Cidades-estado como foram Salzburgo, a bela Ljubljana, Buda e Peste, Viena ou a cosmopolita Munique ficarão para sempre na minha memória até ao dia de regressar.
Como sabem viajo muitas vezes sozinho e desta vez não foi excepção. É óptimo para conhecer pessoas, como o Bilal, mas a solidão pode afectar-nos; e desta vez afectou.
Nas palestras que dou sobre motivação, muitas vezes digo que não posso estar a meio de uma viagem e pensar: "quero ir embora". Desta vez aconteceu. Sofri e queria ir embora. Sofri e não sabia o que fazer.
Com monólogos e uma conta gigante de telefone para Espanha e Suiça, lá consegui prosseguir. Refugiei-me no melhor de mim, no objectivo da viagem e não pensei em mais nada. Foquei-me e cumpri com o plano.
A minha cabeça ainda está lá; mas já tenho novos objectivos, novos projectos.
Dentro de um mês vou para a Austrália mas, até lá, vão surgir novidades.
Como dados da viagem ficam mais de 2.100 km percorridos, 7 dias de viagem, 246 km/h de velocidade máxima com a capota do carro aberta, 257 km/h com a capota fechada. Hostels, comida local e muita cerveja. 
Auf Wiedersehen.

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