Começo esta crónica por dizer que estou com um dia de atraso na escrita. Andar pelo deserto tem coisas destas, apesar dos tempos modernos em que vivemos, nem sempre há rede, nem sempre à energia eléctrica.
Uluru foi tão mágico que nem vos contei o resto.
Ficamos a dormir no Outback Pionner Lodge, um hostel preparado para caminhantes e pessoas que atravessam o deserto, muito ao estilo militar: casernas com tecto de zinco, banho quente e barbeque.
Ainda bem que o banho era a escaldar porque a temperatura ia descer aos 3 ºC!
O barbeque era comunitário; ou seja, cada um comprava a sua carne e ia grelhar a seu gosto. O acompanhamento estava incluído com a carne mas a cerveja era à parte. Comprei crocodilo; não estava tão bom como um que comi na Sony Platz em Berlim ou, posteriormente, na Tasquinha Alentejana em Cucujães mas estava bom e fui eu o homem do meu churrasco.
Os quartos do hostel eram de 4 pessoas e, por isso, o João ficou com as Chicas e eu fui fazer novos amigos. Calhou-me um casal alemão com um filho de uns 13 ou 14 anos. Ressonaram a noite toda e o miúdo acordou a meio da noite a falar. Não dormi nada, ainda por cima a alvorada era cedo.
Às 6:30 da manhã estávamos na estrada para ver o sol nascer nas montanhas de Kata Tjuta, também consideradas sagradas pelos aborígenes.
Entre Uluro e Kata Tjuca não existem elevações e, apesar dos 40 km de distância uma da outra, são perfeitamente visíveis. Depois do nascer do sol na montanha, caminhamos um pouco em torno dela, pelo caminho do Karu, no Valley of the Winds.
De Ayeres Rock ao Kings Canyon, o nosso destino, eram mais ou menos km em pleno deserto australiano. Com as expectativas no máximo para vermos cangurus, camelos e cobras a atravessarem-nos à frente, fizemo-nos à estrada. Wild life here we go!
Passados mais ou menos 100 km da nossa partida, numa bomba de gasolina, falei com um casal motard, de Melbourne, que cruzava o país em duas Harleys. Era a primeira vez que iam a Uluru, tendo-lhes mostrado fotografias do dia de ontem. Tinham entre 50 e 60 anos e era a primeira vez que lá iam; ontem, no pôr-do-sol em Uluru, outro casal de Melbourn, mais velho que este, referiu-me também que era a primeira vez que lá estavam; viajar na Austrália é caro, nem todos podem fazê-lo. É nestes momentos, ao ouvir isto, que penso que vale a pena desfrutar, aproveitar a viagem, focar-me nas paisagens, nos sítios que vou conhecendo, na gastronomia, na cultura; tenho muita sorte em estar aqui; e essa sorte deu muito trabalho.
A viagem correu de forma pacífica e em 3 horas chegamos ao destino.
Se Uluru é mágico, Kings Canyon é a verdadeira obra de deus. Como qualquer falha geológica, como qualquer desastre da natureza, cria cenários únicos, brutais e belos.
Caminhamos durante 5 horas pelos 6 km de caminhos permitido no Canyon, onde vimos as placas tectónicas de cima e de baixo; olhei para o abismo e senti a vertigem de me sentar sobre ele, sem nada entre mim e o chão, centenas de metros lá em baixo.
Se Uluru é mágico pela santificação que os locais lhe deram, Kings Canyon esmaga-nos com a sua dimensão e pelo alaranjado da rocha que funciona como uma verdadeira pilha.
À noite, a olhar para o céu, com a Via Láctea e as suas 1000 constelações, vi, uma vez mais, quão ínfima e a nossa realidade.
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